Quando soube que THE WALKING DEAD seria lançado em DVD e Blu-ray no Brasil pela PlayArte e não pela Fox, que distribui a série internacionalmente, a preocupação foi inevitável. Afinal, as distribuidoras majors fazem das suas, mas são as independentes que mais desrespeitam o material que disponibilizam, tanto na apresentação como na parte técnica. Quando finalmente a primeira temporada saiu por aqui fiquei mais aliviado, já que apesar de alguns deslizes menores (embalagem do BD inferior à da edição em DVD, pequenos erros de impressão e tradução), ela manteve o nível técnico e o conteúdo de extras da edição standard norte-americana. Infelizmente, esta segunda temporada repete os probleminhas da anterior e não mantém sua qualidade técnica – o preço de lançamento, contudo, continua salgado.
Não vou me alongar em questões menores, como a embalagem novamente simplória, algumas inconsistências nos menus ou o volume excessivo da sua música de fundo, mas vou direto ao ponto principal: esta segunda temporada mais uma vez possui apenas dois discos de dupla camada (BD50), apesar de ter mais do que o dobro de episódios da anterior – a edição norte-americana, por trazer alguns extras adicionais, tem quatro discos, e a europeia, que tem o mesmo conteúdo da nossa, possui três. E aqui você já deve estar deduzindo qual é o grande drama da edição em Blu-ray nacional: para que o conteúdo de três BDs de dupla camada coubesse apenas em dois, sacrifícios teriam de ser feitos. E o foram.
A faixa lossless em inglês, que na edição norte-americana é Dolby TrueHD 7.1, aqui foi transmutada em DTS-HD MA 5.1. Sua qualidade é ótima em termos de fidelidade e reprodução de graves e diálogos, mas com dois canais a menos comparativamente perde envolvimento na reprodução dos efeitos ambientais. Além disso, no episódio “Nebraska”, ocorre algo que nunca ouvira antes: em duas cenas os canais surround repetem o áudio de alguns segundos antes. E em certo trecho do episódio final, por uns dois minutos a dublagem em português fica sem sincronia com a imagem. A propósito, a dublagem em português segue sendo apenas DD 2.0.
Mas é no vídeo que está o maior problema. Os episódios novamente receberam transferências anamórficas MPEG-4 1080p que preservam a proporção de tela original 1.78:1. A diferença está na maior compressão agora aplicada, a fim de que 13 episódios, extras, respectivas faixas sonoras e legendas (apenas em português) coubessem nos dois discos. Assim o bitrate médio de vídeo, que na primeira temporada era de bons 24 Mps, caiu drasticamente para 16 Mps. O resultado fica bem visível na tela, ainda que não em todos os episódios. De modo geral, se comparada com a primeira temporada, esta possui imagem menos nítida - a redução da granulação, forte já que continua o emprego de película Super 16mm nas filmagens, já é um indicativo disso. As cores não são tão vivas, e os pretos se revelam menos consistentes. As cenas de interiores são as mais soft, e na sequência em que Shane raspa a cabeça no banheiro cheio de vapor, a granulação se degrada e cria ruídos de fundo. Adicionalmente, em algumas cenas escuras percebemos artefatos típicos de compressão.
Apesar de tudo isso, em Blu-ray a qualidade dos episódios ainda é consideravelmente superior à das transmissões HD da Fox, que além de terem resolução 1080i empregam compressão maior. Mesmo assim é lamentável que, para reduzir seus custos, a PlayArte tenha optado por comprometer a qualidade de um dos melhores títulos que possui em seu catálogo. Se a distribuidora não tem como lançar edições com embalagens caprichadas para colecionadores, como a muito procurada lá fora “cabeça de zumbi”, que pelo menos faça um básico bem feito. Ou então, que ceda os direitos da série para uma distribuidora que a trate com o capricho e o esmero que merece.