Crítica sobre o filme "Tentação, A":

Rubens Ewald Filho
Tentação, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 09/08/2012

Já estreou há algum tempo um filme muito bobo chamado À Beira do Abismo (Man on the Ledge) com Sam Worthington, que é confessadamente inspirado neste aqui, sem dúvida mais modesto. Não gosto do título nacional do que poderia ser um thriller sobre um tema clássico do cinema: um sujeito que vai para o alto de um edifício e ameaça pular de lá (enquanto a polícia vem tentar dissuadí-lo). Lembro, quando criança, teve uma história dessas que me impressionou num filme chamado Horas Intermináveis (14 Hours, 51) de Henry Hathaway, que não pude ver porque não tinha idade suficiente. Anos depois, saiu em DVD a história desse sujeito, Richard Basehart, e as causas para seu desespero (era também a estreia de Grace Kelly no cinema).

Essa situação tem sido, desde então, a base para o subgênero, que tem uma variante neste filme B que teria influenciado o escritor de À Beira do Abismo, que não gostou porém de sua resolução, preferindo optar por um assalto em vez de um tema religioso. Embora seja justamente isso que torne este The Ledge um pouco diferente. O filme também tem um especial charme porque foi dirigido e escrito por Matthew Chapman, que é casado faz muitos anos com a atriz brasileira Denise Dumont, e que deu uma mão também em A Grande Arte, de Waltinho Salles. Ele tem grande experiência como roteirista (A Cor da NoiteO Júri, Jogos de Adultos) e, ocasionalmente, diretor.

Ele conseguiu aqui um bom elenco, que inclui Liv Tyler e o astro da Broadway Patrick Wilson (série de TV A Gifted Man, Prometheus, Jovens Adultos, Sobrenatural), mas o que mais me impressionou foi o inglês Charlie Hunnam, que revela uma especial simpatia e carisma (ele foi o mais novinho da série inglesa Queer as Folk e está na série de TV Sons of Anarchy). A história é aquela de sempre: um policial (Terrence Howard, indicado ao Oscar por Ritmo de um Sonho) é chamado para ajudar um rapaz que está no alto de um prédio ameaçando pular (ele tem um prazo pequeno para resolver se pula ou não, motivado por uma razão religiosa. Não posso dizer o que se trata, mas é estranho que um filme aborde um assunto assim, que irá afetar também o policial, que tem também seus problemas de consciência). É raro se ver um filme do gênero ou qualquer outro tipo mexer com questões religiosas. Com um herói ateu, outro cristão fanático. Polêmico, como todos os que enveredam pelo caminho.  

Exibido em Sundance, é portanto um suspense diferente, com uma mensagem a passar. E sem alguém for ver, pode até causar certa polêmica.