Crítica sobre o filme "Valente":

Rubens Ewald Filho
Valente Por Rubens Ewald Filho
| Data: 19/12/2012

Depois da decepção generalizada provocada por Carros 2, considerado o mais fraco filme de animação dos dez anos de Pixar, não acho que ela tenha se reabilitado ainda com esta décima terceira produção, Valente, seu primeiro trabalho em cima de um clichê da Disney (o filme de princesa), embora esteja sendo promovido também como o primeiro deles estrelado por uma figura feminina (para evitar que seja visto como apenas “um filme para meninas”, o que é uma injuria para os garotos!), é basicamente um filme de ação, sem “complicômetros”. E valorizado por um lugar comum: que é a belíssima qualidade das imagens, que é o mínimo que espera do estúdio, ainda em 3D.

Outra coisa: também é o primeiro filme de época da Pixar. Ansiosos para lançar e treinar gente nova (até porque muitos dos diretores de animação tem passado para o cinema “live action”), desta vez chamaram um trio quase desconhecido: Mark (estreante fazia storyboards), Brenda Chapman (autora do argumento, do co-roteiro e foi co-diretora de O Príncipe do Egito) e como co-diretor Steve Purcell (roteirista de videogames como Sam e Marx).Não é uma boa ideia usar um título já aproveitado em outro filme recente (Valente /The Brave One, 2007, de  Neil Jordan, com Jodie Foster).

Mas suponho que a moda de fazer pré-estreias diárias do filme antes de sua estreia oficial traga resultados já que ao menos atrapalha a gente que não sabe bem quando publicar a crítica, antes ou depois da abertura oficial. Passado na Escócia, durante uma época antiga e mítica, conta a história de Merida que é uma ambiciosa arqueira (aliás, uma habilidade que parece estar em alta no cinema, inclusive nos Vingadores) que pertence a realeza.

Uma produção luxuosa que começou a ser feita como O Urso e o Arco (The Bear and the Bow), orçamento de US$ 185 milhões vai bem lá fora sem exatamente estourar chegando até agora a US$ 190 milhões e sem provocar o boca a boca de outros filmes que tinham um elemento de originalidade. Passava-se quase todo na neve, mas o diretor Andrews eliminou isso durante os seis anos que o filme levou em produção.

A maior novidade aqui talvez o cabelão ruivo imenso da heroína (para o qual foi preciso criar um software novo) e brincadeiras nos nomes com Lord Mackintosh (referência a Steve Jobs, co fundador da Apple e da Pixar) e Lord McGuffin (que era o nome que Hitchcock usava para designar o motivo central da trama de um filme de suspense, um segredo ou armamento que no final das contas não tem muito a ver com o desenrolar da história).

Seria também o primeiro filme a usar o novo sistema da Dolby Atmos, que expande de 5/7.1 canais para 64 discretos altofalantes e 128 canais de áudio simultâneos. No final das contas, se é provável que as crianças apreciem o filme, os pais e os mais velhos podem ficar desapontados porque não é um evento, um acontecimento ou nem mesmo memorável.

Eu ao menos achei banal a história de Merida, arqueira por paixão, que recebe o pedido da Rainha Elinor de escolher entre três possíveis possibilidades de marido dentro do clã. Ela não gosta de nenhum deles e foge para a floresta onde vai parar na casa de uma velha bruxa a quem pede uma mágica que não dará certo, transforma a rainha num urso. E Merida tem exatamente dois dias para reverter à magia.

A trama se complica porque o rei teve uma perna comida por um urso e não gosta deles! O alívio cômico indispensável são os três trigêmeos ruivos irmãos da heroína. Suponho que a mensagem para as crianças é que se deve melhorar a comunicação entre mães e filhas. E que não há nada errado em garotas desejarem ser independentes e autônomas! Mas esta anti-Rapunzel não é - insisto - nada especial, nem mesmo com a retumbante trilha musical de Patrick Doyle. Afinal, há algo errado num filme onde a coisa mais animada é um cabelão.