Crítica sobre o filme "Ditador, O":

Rubens Ewald Filho
Ditador, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 17/05/2012

Tinha certa expectativa de assistir o novo filme de Sacha Baron Cohen depois da decepção do descontrolado e quase ofensivo Bruno (2009), bem inferior a seu famoso Borat (2006), que inaugurou seu estilo de semi-documentário fake.

Sacha que é judeu e britânico, pisa em terreno mais polêmico com O Ditador já que apresenta um ditador de um pais rico em petróleo e deserto mas que ele faz questão de dizer que não é árabe e em momento nenhum se toca em religião. Para provocar a ira dos maometanos. Se isso for possível.

O truque é que tudo o que assistimos no trailer na verdade resuma unicamente os primeiros minutos do filme, que dali em diante muda completamente e se torna por sinal muito menos engraçado. Inclusive, notei um corte do trailer, já que não tem aquela frase em que ele diz: "Salve os Estados Unidos, o país onde inventaram a AIDS!"

Alguém resolveu cortar a piada. Sacha tem a mania ou precaução, de fazer versões diferentes para cada país. Esta americana tem apenas 83 minutos, incluindo os letreiros que continuam a ter piadinhas até mais ou menos a metade. O Ditador, naturalmente feito por Sacha, chama-se Aladeen (piada evidente) e seu castelo num Oasis é uma famosa construção na Espanha, em Sevilha, assim como as externas nas Ilhas Canárias e Marrocos.

Ele é sanguinário e por qualquer coisa manda seus associados (só que em vez de serem executados, estes fogem para os Estados Unidos) enquanto prossegue com seu plano de construir ogivas e bombas atômicas para fins bélicos. Seu maior inimigo é o irmão (papel indigno para Bem Kingsley) que lhe prepara uma cilada quando Aladeen vai até Nova York para falar na ONU (é importante lembrar que ele tem também vários sósias que morrem em atentados contra ele). Por uma série de circunstâncias, Aladeen fica fora da Assembléia e obrigado a sobreviver em Nova York, com a ajuda de uma militante (Anna Faris) com quem eventualmente se envolve. Até sexualmente.

Uma pena que por causa dessa trama a maior parte do filme é apenas mais uma repetição do tema do Peixe Fora D’Agua, ou seja, um ex-ditador sem poder, descobrindo os prazeres do capitalismo.  Como sempre o problema é a falta de gosto, ou melhor dizendo, o mau gosto de muitas piadas, grosseiras ou vulgares. Uma delas, por exemplo, é elenco esquecendo um celular dentro do útero de uma mulher que está ajudando a nascer o bebê (mas tem uma piada boa sobre o tema em outro momento, quando fala para a mulher: - Você esta grávida? Pode escolher entre menino ou aborto!).

Tem outras coisas que ofendem, numa delas, um emissário chinês quer que George Clooney faça sexo oral para ele. Aí dizem “mas ele não é gay, são apenas boatos! Parece que você que é gay”. O chinês responde, “não é sexo! É poder” (ainda assim Clooney não topou fazer a ponta, mas quem faz a cena ainda que sugerida é o corajoso Edward Norton). Aliás, nos diálogos também há um exagero de palavrões e sugestões de sexo oral, incluindo Aladeen aprendendo a se masturbar pela primeira vez.

Quem foi burra o suficiente para aceitar a ponta foi Megan Fox, que segundo mostra o filme ganha presentes e dinheiro para fazer sexo com xeiques ricos como o Ditador. Ou seja, se prostitui, se não é verdade, é uma brincadeira que só a compromete, não a promove em nada.

E vai assim por diante, depois de uma comecinho razoável, o filme fica muito irregular (ainda assim a plateia americana parecia achar alguma graça), mas felizmente no fim dá uma reviravolta muito interessante. E Sacha faz um discurso altamente crítico e violento, defendendo a Ditadura que é boa porque assim se pode torturar prisioneiros sem julgamento, prender negros sem justificativa e vai assim por diante apontando todos os atuais defeitos da chamada democracia americana. A plateia riu meio amarelo, me parecendo que custaram a entender a piada.

Felizmente tem muitas gags, muito chutes nas partes, e outras baixarias, perdido entre um outro momento de doçura e alguns vazios. Aposto que o melhor do filme ficou na sala de edição cortados ou por um algum advogado com medo de processo ou da fúria vingativa dos sucessores de Bin Laden.