Parece mentira que já fazem mais de 30 anos desde que, em 1982, o mundo foi tomado de assalto pela terna ficção-científica de Steven Spielberg E.T. - O EXTRATERRESTRE. Fazia tempo que não a assistia, a última vez foi quando do lançamento em DVD da edição de 20º aniversário – há dez anos, portanto! E como comprovaram meus olhos úmidos durante sua inesquecível conclusão, E.T. ainda preserva a qualidade de fascinar crianças e emocionar adultos (e vice versa), de um modo que nenhum outro filme para a família, até hoje produzido, é capaz de fazer.
Apesar de tudo o que veio a seguir na carreira de Spielberg, este ainda continua a ser seu filme mais autoral, pessoal. Na verdade é a extensão de um projeto iniciado com CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU (1977), primeiro longa no qual Spielberg exerceu a liberdade criativa conquistada pelo grande sucesso de TUBARÃO (1975). Spielberg, com o inestimável auxílio da roteirista Melissa Mathison, pôde levar às telas seu sonho de criança (sem dúvida partilhado por muitas outras, dos 8 aos 80 anos), e que não é muito fácil de traduzir em palavras - ele tem de ser visto e, especialmente, sentido.
No filme o próprio Spielberg se faz representar por dois personagens – em versão criança por Elliot e em versão adulta pelo personagem de Peter Coyote, que apesar de quarentão e de trabalhar para o sistema, ainda guarda no coração a capacidade de se maravilhar com o desconhecido e o extraordinário. Essa ideia, permeada pela busca da paternidade perdida (recorrente na maior parte da obra do cineasta) é conduzida à perfeição por Spielberg, que conseguiu obter atuações soberbas de seus atores mirins e mesmo do E.T., que conforme a cena era um boneco animatrônico criado pelo falecido mestre Carlo Rambaldi, ou uma fantasia vestida por pessoas pequenas e um garoto sem pernas.
O longa nos traz vários momentos inesquecíveis e poéticos: a abertura onde E.T., fascinado com a flora de nosso planeta, afasta-se da nave; a perseguição e o abandono; o primeiro encontro do extraterrestre com Elliot; Elliot no colégio, sob a influência de E.T., libertando os sapos e dando seu primeiro beijo em uma colega de classe; no Halloween, o encontro de E.T. com uma criança fantasiada de Yoda; o voo da bicicleta em frente à Lua; e muitos mais. E todos esses momentos são realçados pela arrebatadora e oscarizada trilha sonora de John Williams, uma obra-prima que consegue se destacar na carreira do veterano compositor, repleta de grandes trabalhos.
Em 1982, para comemorar o 20º aniversário do filme, Spielberg relançou o filme em uma versão não somente remasterizada, mas onde as expressões faciais de E.T. foram digitalmente aperfeiçoadas, o boneco animatrônico foi substituído em uma cena por uma réplica em computação gráfica, e o que causou mais polêmica - as armas dos agentes do governo que perseguiam Elliot e E.T. foram substituídas por walkie-talkies. Anos depois o diretor declarou-se arrependido dessas mudanças, provavelmente feitas no embalo das mexidas que seu amigo George Lucas estava fazendo na trilogia original de STAR WARS. Tanto que agora, em seu relançamento em Blu-ray, a única versão do filme incluída foi a originalmente exibida nos cinemas.