Crítica sobre o filme "Hobbit, O - Uma Jornada Inesperada":

Rubens Ewald Filho
Hobbit, O - Uma Jornada Inesperada Por Rubens Ewald Filho
| Data: 13/12/2012

Recebido com certa má vontade nos Estados Unidos, este filme foi apresentado originalmente para a imprensa em tela plana. Pelo prazo de entrega da crítica, não deu para esperar ficar pronta a versão 3D. E não nos mostraram o que seria a mais curiosa. Acontece que Peter Jackson, o mesmo que fez a trilogia Senhor dos Anéis, só assumiu a direção quando houve uma série de contratempos e atrasos que forçaram o diretor previsto Guillermo del Toro a largar o projeto. Mas ainda assim ele coassina o roteiro.
Os problemas foram vários e muito complicados: brigas com os herdeiros de Tolkien, a MGM dona dos direitos que pediu falência, boicotes por sindicatos da Nova Zelândia, a saída de Toro e ainda por cima Jackson ficou muito doente, tendo sido operado às pressas com uma úlcera perfurada.

O caso é o oposto do filme anterior, onde era preciso sintetizar as coisas. Aqui foi necessário ampliar as situações. Eram para ser apenas dois filmes mas devem ter sido pressionados para fazerem logo uma nova trilogia. Assim o roteiro tem cenas que não existem no livro, transformando em ação citações ou simplesmente momentos que eles acham que os fãs gostariam de ver, como o retorno dos elfins, muito particularmente da sempre insinuante Cate Blanchett.

Naturalmente os três filmes foram rodados simultaneamente e os outros serão lançados nos dois próximos anos. Ou seja, fica a desconfiança com o espectador de que tudo é um pouco esticado propositalmente. Aqui neste primeiro episódio isso acontece justamente com a parte inicial em que os anões chegam para jantar. E a sequência parece interminável. E outra coisa, os anões nunca têm jeito ou cara de anão. Menos ainda do que no filme de Branca de Neve e os Caçadores.

Mas o curioso e discutível é que Jackson resolveu rodar o filme, a maior parte dele, na Nova Zelândia, como o anterior com exceção das cenas com os atores mais veteranos, no caso Ian Holm que faz o velho Bilbo e o venerando Christopher Lee (já com 90 anos) novamente como Saruman para lhes poupar a  viagem, longa e cansativa. O diretor quis usar então 30 Red Epic Câmeras Digitais, que tem a novidade de serem projetadas com a velocidade de 48 quadros por segundo (o dobro do normal) que parece ser bom para o 3D. O filme será mostrado neste sistema no Shopping JK, em São Paulo. Quem viu nos Estados Unidos reclamou muito porque achou que isso o deixou com cara de televisão, de HD, nítido demais, quebrando a magia do cinema.

Não posso opinar porque me parece que eles da Warner foram sábios e precavido em apresentar uma cópia em película, tradicional. E o que eu vi me satisfez. Tudo começa 60 anos antes da aventura anterior, isso significa que é preciso liberdade poética porque os do filme anterior parecem mais velhos e não mais novos! Em particular McKellen, que é o mais idoso na aldeia Hobbit, onde Bilbo (Holm) resolve contar uma história que ele não havia relatado antes e quando fica jovem o papel é de outro comediante, Martin Freeman (conhecido por comédias como Chumbo Grosso, Todo Mundo Quase Morto e como o Dr. Watson, do atual Sherlock Holmes da TV inglesa, com Benedict Cumberbatch que faz aqui o Necromance e futuramente a voz do Dragão.

Levado por Gadalfi, ele se junta a jornada para ver se conseguem recuperar o reino subterrâneo e rico em ouro do pai do chefe dos Anões,  Thorin (e a revelação do filme é justamente o ator ainda pouco conhecido Richard Armitage – ele foi um alemão em Capitão América - que tem todo o carisma de um astro. E assim vão caminhando pelas fotogênicas paisagens da Nova Zelândia, montanhas e cascatas, incrementadas pelos extraordinários efeitos visuais. Isso dá direito inclusive a um encontro furtivo com Gollum (curto e por isso Andy Serkis que o interpreta também foi assistente de direção na longa filmagem que durou praticamente um ano inteiro) e mais que isso, Bilbo ainda esbarra e fica de posse do célebre anel!

Na criação de criaturas monstruosas, momentos de perigo (com escapadas inesperadas), o filme só se compara mesmo a outra trilogia. Tem muita ação, figuras marcantes, só não tem romance, mas o filme tem um outro breaktrough que seria o jovem Aidan Turner, que faz Killi, que parece ser o novo - e espero melhor, Orlando Bloom. Só mesmo puristas irão reclamar das mudanças. Como filme de aventura achei um belo espetáculo. Ainda que não me pareça que vá disputar grandes categorias do Oscar.