Levou um bom tempo, mas estimulado pela chegada do primeiro filme de O HOBBIT aos cinemas, finalmente decidi escrever a resenha do box em Blu-ray das versões estendidas da trilogia O SENHOR DOS ANÉIS, cuja trajetória no nosso mercado de home vIdeo foi uma verdadeira novela - e das longas, já que durou praticamente uma década. Mesmo lançadas em DVD nos EUA pouco tempo após as versões de cinema, ou seja, a partir de 2002, devido a problemas contratuais nunca bem explicados entre a Warner Bros., que distribuiu a trilogia internacionalmente, e o finado estúdio New Line, que a produziu (detalhe: ambos pertencentes ao mesmo grupo), foi apenas em 2009 que o box com essas versões saiu no Brasil. Em 2010 a trilogia foi disponibilizada mundialmente em Blu-ray, mas apenas com as versões de cinema e, em nosso país, sem extras. Em 2011, as versões estendidas foram lançadas nos EUA em BD e alguns meses depois na Europa, sendo que no Brasil finalmente aportaram em agosto de 2012. Imagine a situação de um colecionador brasileiro fã da trilogia: depois de muitos anos de “jejum”, em um espaço de três anos foi compelido a comprar três edições diferentes dos mesmos filmes, e muitos, para a satisfação da Warner, o fizeram... Mas, apesar dos pesares, a distribuidora deve ser parabenizada por finalmente ter disponibilizado no Brasil as versões estendidas, e em edições em DVD e Blu-ray que nada ficaram devendo às internacionais.
Em Blu-ray, o box norte-americano das versões estendidas da trilogia O SENHOR DOS ANÉIS já saíra com dublagem e legendas em PT-BR, estas inclusive nos extras (exceto por alguns lotes nos quais os discos de extras não receberam nenhuma legenda – alguns infelizes importadores receberam esses). A diferença entre as edições é a embalagem: nos EUA os quinze discos (seis BDs com os filmes e nove DVDs de extras) estão acondicionados em três elegantes estojos Elite Black, que fazem um contraste interessante com o dourado das suas capas; aqui, como habitualmente faz com boxes de Blu-ray, a Warner optou por três Digiduplos em padrão (tamanho) DVD. Ambas as edições possuem luvas, sendo que a norte-americana tem material e acabamento superiores, e é menor que a nossa. No balanço geral fica difícil dizer qual tem a melhor apresentação – as duas têm seus apreciadores. A vantagem maior dos estadunidenses é que, após o box, cada versão estendida foi lançada individualmente, o que não aconteceu por aqui.
O lançamento das versões de cinema da trilogia em BD gerou polêmicas, especialmente em razão da qualidade medíocre da transferência HD de A SOCIEDADE DO ANEL. Não achei o problema tão grave assim, como fiz referência na época, mas indiscutivelmente seria de esperar que a Warner caprichasse mais nas versões estendidas, o que felizmente ocorreu. O primeiro filme recebeu uma nova transfer 1080p/MPEG-4 remasterizada, no formato de tela 2.35:1, que mostra perceptíveis avanços em termos de nitidez, contraste e cores. No entanto, a correção de cores aplicada foi alvo de muitas criticas. Nuvens e neve, que antes eram imaculadamente brancos, por vezes ganham uma aparência levemente esverdeada. Essa alteração no tom das cores é perceptível mais em algumas sequências que outras, inclusive nos tons de pele, mas de modo geral a remasterização deixou A SOCIEDADE DO ANEL com um padrão de qualidade de vídeo equivalente ao dos demais filmes, com texturas altamente detalhadas e sem artefatos ou filtros digitais perceptíveis.
Por sua vez, tanto AS DUAS TORRES como O RETORNO DO REI, pelo que consta, não passaram por nova remasterização. A nitidez e níveis de detalhe são bem elevados e as cores, maravilhosas, mas se você for bem detalhista notará em alguns momentos que, diferentemente da nova transfer do primeiro filme, os contornos não são tão naturais (como se tivesse havido a aplicação, ainda que leve, de Edge Enhancement), e por vezes a textura de barbas e cabelos parece perder resolução, como resultado da utilização de DNR. Mesmo assim, na minha avaliação, O RETORNO DO REI, que nas versões de cinema possuía a melhor imagem, repete a façanha aqui com sua apresentação fílmica impecável. Caso queira continuar a procurar “cabelo em ovo” certamente encontrarei probleminhas aqui e ali, mas o que escrevi sobre os BDs das versões de cinema também se aplicam às estendidas: estes são filmes lançados há uma década, e em função da tecnologia da época alguma perda em cenas de efeitos visuais, altamente processadas e com sobreposição de imagens, sempre acontecerá. Aliás, isso de certa forma é realçado pela qualidade de vídeo superior também advinda do fato de que cada filme, em razão de sua maior duração, foi dividido em dois discos; em consequência as transferências, beneficiadas pelo maior espaço disponível na mídia, ganharam maior bitrate.
Já quanto ao áudio, as versões estendidas receberam esplêndidas mixagens em inglês lossless DTS-HD MA 6.1, que se equivalem às melhores faixas de áudio em alta definição da atualidade. Todos os três filmes, em seu idioma original, possuem níveis dinâmicos perfeitos, efeitos direcionais precisos e graves agressivos. O palco sonoro é rico e envolvente, colocando o espectador no meio da saga do Anel – seja nas paisagens bucólicas do Condado, nas florestas escuras de Fangorn ou em épicas batalhas cercado de orcs, uruk-hais, olifantes e flechas cruzando os ares. A fidelidade, começando nos diálogos sempre límpidos, passando pelos ruídos de espadas e armaduras em choque e chegando às maravilhosas partituras de Howard Shore, é sempre cristalina. Temos aqui, pura e simplesmente, uma experiência auditiva perfeita, ainda que, mais uma vez, preferisse que chegasse em surround 7.1 canais - apesar de, sinceramente, não saber se meus ouvidos perceberiam plenamente o upgrade do 6.1 para o 7.1. Além da faixa em inglês DTS-HD MA, a única outra disponível é a nossa (re)dublagem no velho Dolby Digital 5.1. Os bonitos menus estão apenas em inglês, e temos legendas em português, inglês e espanhol.