Quando o patriotismo americano volta a aparecer no cinema em formato drama, já temos um fato: cheiro de Oscar no ar. E não que Argo seja um filme contagiante, muito pelo contrário, até chegar nas cenas finais, o longa tem um ritmo bem lento, cheio de detalhes bem dialogados que fazem com que o espectador que não vá preparado para isso canse ou até mesmo saia da sessão. O único ponto que faz os mais nostálgicos vibrar é a logo antiga da Warner que aparece para abrir o longa.
A história do filme se passa em novembro de 1979, quando a revolução iraniana atinge seu ápice e militantes surpreendem a embaixada dos EUA em Teerã, fazendo 52 reféns americanos. Mas, no meio do caos, seis americanos conseguem escapar e encontrar refúgio na casa do embaixador canadense. Sabendo que é apenas uma questão de tempo até os seis serem encontrados e provavelmente mortos, Tony Mendez, um especialista em fugas da CIA, sugere um plano arriscado para retirá-los do país em segurança. Um plano tão incrível que só poderia acontecer nos filmes.
Como o longa é baseado num fato real, e a maioria das pessoas nem se lembram da época, eu por exemplo nem era nascido, a história é bem interessante e por incrível que pareça poderia estar acontecendo inclusive nos dias atuais. E com esse tino comercial que Ben Affleck tem, soube escolher o roteiro perfeito para dirigir e com toda certeza mostrar mais uma vez que assim como outros grandes atores que saíram da frente das câmeras para trás delas, claro que no seu caso parcialmente, afinal sempre anda estrelando os filmes que dirige, que possui uma ótima mão para colocar os fatos de forma a serem bem convincentes. As imagens em vários momentos parecem ser até arquivos da TV, mas pelo tamanho da perspectiva com certeza foi filmado e tratado de forma a enganar o espectador. Um ponto que vale ressaltar está presente nos bons diálogos do longa, pois tudo se encaixa bem, principalmente as ironias presentes nos sets de filmagem que qualquer pessoa que já tenha visto um making-off ou participado de algum filme com certeza reconhecerá. O interessante por trás de tudo é que o longa é intrigante, mas não chega a ser pesado para que ficássemos pensando em como poderia terminar, é mais algo visualmente que sabemos que tudo vai dar certo e é só aguardar o desenrolar.
Um ponto interessante para Affleck é que mesmo dirigindo, consegue ainda atuar bem nos seus filmes, e aqui não é diferente, nas cenas em que aparece domina o ambiente com seu perfil e falas ditadas em bom timbre e isso faz convencer seu personagem em ser um agente e inclusive parecer um produtor mesmo de cinema. Outros atores se destacam também, por exemplo John Goodman que ficou altamente semelhante com o maquiador premiado John Chambers("O Planeta dos Macacos") quando vemos ao final as fotos da época. Alan Arkin ao fazer um velho e premiado diretor é perfeito, e seu melhor diálogo fica com toda certeza na negociação do filme com o roteirista original, é com certeza uma cena perfeita para todos que já negociaram um roteiro com alguém. Todos no geral fazem boas interpretações e estão muito bem dirigidos em cena para ficar destacando cada um, inclusive a equipe de figuração faz bonito em cena, demonstrando toda a raiva aos EUA e com toda certeza assim parecerem iranianos, e assim sendo não decepcionam em momento algum quando aparecem no filme.
O quesito visual, é outro bom exemplo de como o longa está interessante, pois foi feito um excelente trabalho de construção de época, onde temos tudo bem colocado como figurinos, objetos cênicos(telefones, papéis, TVs, entre outros), e até mesmo a cenografia dos lugares onde se passa o filme, representando muito bem os locais na época em que se passa. Isso faz com que a equipe de arte seja bem valorizada. A fotografia foi sujada um pouco para dar um ar antigo ao longa, e com os planos escolhidos ficando bem entre os tradicionais com closes mais fechados e poucas cenas bem abertas, trazem um aspecto mais documental para que o filme ficasse interessante.
A parte sonora soube trabalhar de forma clássica, sem abusar muito para que o filme não saísse do contexto escolhido. Trabalha bem no timing do longa apenas marcando as cenas sem que dê um ritmo nem acelerado nem lento demais, apenas colocando lenha e sufocando o espectador nas cenas finais. O silêncio ultimamente já virando cliché, também é bem usado em alguns momentos.
Enfim, é um longa interessante, com a cara completa de Oscar, mas que não possui um ritmo nem história interessante para chamar e segurar o público geral nas sessões dos cinemas, tanto que a maioria presente em minha sessão ao final do filme só comentava as cenas finais como sendo bacanas, sendo que muitos nem chegaram a esperar por elas, pois muitos saíram no meio da sessão, onde ele fica bem devagar. Recomendo ver como um filme artístico bem dirigido e que provavelmente vai estar entre os indicados do Oscar, mas já garanto que não é um longa bacana de ser visto por ser algo politicamente americano.