Argo (2012), dirigido por Ben Affleck, é uma produção americana padrão, desossada, de escassa criatividade, feita para entreter a curiosidade dos antigamente chamados quintais de Hollywood: como a civilização americana e seu grande símbolo, o cinema hollywoodiano, se comportam na invasão que fazem à periferia do mundo. Patriotada, não mais do que isto, nos oferece Affleck.
No entanto, o realizador sabe disfarçar bem, como ator que é. Faz de conta que o alvo é uma crítica ao bárbaro primitivismo iraniano. Uma odisseia internacional. Uma história de fato acontecida recontada. Gente de cinema e gente da CIA unidos para entrarem disfarçados no Irã de 1979 para resgatarem cidadãos americanos sitiados em território iraniano.
Isto lembra o que o cineasta chileno Miguel Littín para rodar, nas barbas do ditador Pinochet, um filme; Littín disfarçou-se para, voltando do exílio, pisar no Chile e fazer seu filme. A história foi depois contada em livro pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez.
Entre a contundência crítica de Littín-Márquez e o vazio quase inconsciente de Affleck vai uma distância grandíssima.