Crítica sobre o filme "Hora Mais Escura, A":

Rubens Ewald Filho
Hora Mais Escura, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 17/01/2013

Não entendi como a venerável associação dos críticos de Nova York caiu nesta cilada votando neste filme como melhor do ano e que agora provoca muitas polêmicas:

1) em parte porque Kathryn Bigelow que ganhou o Oscar pelo filme anterior, Guerra ao Terror em 2009, vencendo o favorito Avatar feito pelo ex marido dela, James Cameron. Agora ficou fora da lista de melhor diretor. Mas o filme, que é este entrou como melhor filme. Será que o filme se fez sozinho?

2) A Hora Mais Escura é um nome difícil de explicar, no original Zero Dark Thirty quer dizer “00 Dark 30” em termos militares são 30 minutos depois da meia noite. O problema é que a produção afirmou que era baseado em fontes verdadeiras, mas isso incomodou a CIA que negou isso (os espiões e agentes não pode se identificar ou contar nada do que fizeram, tudo é segredo confidencial de estado). A CIA nega e a gente não acredita  que as informações sobre o lugar onde estava escondido Bin Laden foram conseguidas através de tortura como mostra o filme.

3) aí que está o problema, o fio da meada começa a ser desenrolado justamente a partir de torturas mostrando no filme sem muito sensacionalismo mas com sua discutível melhor dizendo repugnante violência. Ou seja, ao não desaprovar o uso da tortura o filme a esta de certa apoiando ou ao menos desculpando-a por que “seria por uma boa causa”. A verdade é que o roteiro poderia muito bem ter trazido uma frase da protagonista, ainda mais sendo mulher, onde lamentava isso, não precisava muito bastava dizer, que pena isso... Mas isso é contra a constituição, algo assim.

Ficava mais humano e menos agressivo. E sem endossar a situação. O fato é que agora há dentro da Academia um movimento para boicotar o filme justamente por não condenar a tortura de prisioneiros, liderados por liberais como Martin Sheen e Ed Asner e Bigelow não tem que passar o vexame de dar entrevista se dizendo liberal, pacifista a vida inteira, e que apoia protestos contra a tortura ou qualquer tratamento não humano!

Como nunca fiz segredo não gosto do filme anterior dela Guerra ao Terror, que acho americanista (e o único elogio que fazem a Kathryn é que ela dirige temas em geral feito por homens!) e ainda hoje é o maior fracasso de bilheteria de todos os tempos dentre os ganhadores de melhor filme (se bem que O Artista fica no páreo!).

Eu continuo a achar que os prêmios para o filme é outro caso de delírio coletivo, outro filme super estimado da bela Senhora Bigelow. O roteirista e o mesmo de Guerra, Mark Boal, que afirma ter se baseado em fatos reais (mas na ética americana se ele não revelar as fontes pode até ir preso. Ou seja, o caso eh mais feio do que parece.

Estive lendo o roteiro do filme e ele conta que começou fazendo outro filme sobre o fracasso da busca de Bin Laden quando foram surpreendidos pela morte dele. Mudaram de rumo e começaram tudo de novo, a partir do fato de que a maior parte dos funcionários da CIA são mulheres (o que pouco se sabia) e isso explica o fato de termos uma protagonista feminina, uma mulher obsessiva que passa 12 anos pesquisando onde poderia estar o terrorista e feita pela atriz da moda, Jessica Chastain (substituindo Rooney Mara que teve que largar o papel).

Jessica ganhou o Globo de Ouro e seria forte candidata ao Oscar, já que tem rodado filmes sem parar. Não tenho opinião formada sobre ela,  mas o papel não é nenhuma maravilha, já que não participa do assalto à casa fortaleza do condomínio onde ele estaria, mas fica no escritório sofrendo calada. Jessica tem uma cena forte de briga onde faz todas as caretas que tem direito, mas por enquanto não compartilho o entusiasmo por ela).

São quase três horas de projeção correndo atrás de pistas erradas (os coadjuvantes não são muito conhecidos de propósito) enquanto os chefes do governo  não acreditam de que a pista é verdadeira (James Gandolfini tem poucas cenas como o mais graduado). Muito escuro, o filme tem  coisas inexplicáveis. Por exemplo, os helicópteros vão tentar entrar na casa onde Laden está escondido e fazem o maior barulho, mas ninguém parece perceber, nem na casa nem no vizinho (Boal diz que foi assim que contaram que sucedeu).

A primeira parte é burocrática, ainda que enfrentemos dois atentados, um num restaurante e outro homem bomba e assim percamos a boa presença da inglesa Jennifer Ehle. Não achei o filme cheio de suspense e emocionante como diziam. Além de longo demais, tudo é muito escuro nas cenas do ataque, difícil de distinguir muita coisa (mesmo a vítima que é mostrada pouco e sem detalhes).

A tortura está na primeira parte do filme e são cenas penosas de assistir com a perigosa mensagem de que a tortura seja institucionalizada.  Enfim, não é tudo isso de que falavam. Ainda bem que fizeram cair a máscara da face.