Crítica sobre o filme "Miseráveis, Os":

Fernando Reis Coelho
Miseráveis, Os Por Fernando Reis Coelho
| Data: 02/02/2013

Falar de filmes musicais é algo que não é fácil, principalmente quando ele consegue nos tocar se bem assistido. Digo isso pois Os Miseráveis é um filme maravilhoso que pode ao mesmo tempo ser algo extremamente prazeroso se assistido olhando como um enquadramento fechado de uma peça teatral bem colocada em cenários maiores, como pode se tornar algo muito cansativo se você não está acostumado com musicais e for ao cinema esperando ver apenas um drama contado de forma homogênea tradicional. Como adoro musicais e adoro teatralizações, na minha opinião não poderia ter visto um filme tão lindo que veria novamente seguido, mesmo com suas quase 3 horas, sem cansar nem um pouco.

A história nos mostra que na França do século 19, o ex-prisioneiro Jean Valjean é perseguido há anos pelo implacável policial Javert, depois que ele violou sua liberdade condicional ao roubar os candelabros de prata da igreja. Anos depois, agora rico e com uma nova identidade, Valjean conhece Fantine, uma de suas ex-funcionárias de sua fábrica, que implora a ele que cuide de sua filha Cosette. O encontro entre os dois muda suas vidas para sempre.

A história em si, pode ser considerada bem simples, porém com uma estrutura emaranhada cheia de personagens poderia até dificulta um pouco, mas como é contada de uma forma tão singela e doce, consegue passar uma naturalidade agradável que ela deslancha na mesma toada que as melodias são tocadas em nossos ouvidos com leveza e suavidade. O diretor Tom Hooper soube conduzir o filme sem que ele fosse algo dramático e forte, mas sim que emocionasse a cada canção bem cantada e interpretada pelos artistas e tivesse a ainda assim serenidade de um bom drama. O que mais fez de acerto foi fazer seus planos sempre fechados, raramente abrindo a lente de modo que o longa rodasse exatamente como em uma peça, onde os atores entram no enquadramento sem que precisemos saber o que estavam fazendo antes, e esse detalhe que faz com que gostemos mais ainda do filme, então como já disse no início, tente focar ao assistir dessa forma que me foi indicada e recomendo também aos meus leitores. Outro ponto que vale ressaltar foi a maluquice do diretor de fazer diversos planos-sequência maltratando os atores a ponto de terem de cantar uma canção seguida sem paradas, isso é lindo de se ver, mas imagino que deve ter arrumado muita confusão entre os atores.

A injustiça completa foi feita domingo passado(27/01) ao ser premiado como melhor elenco no SAG "Argo", pois aqui sim temos um elenco de peso que detona em cena tanto nas interpretações faciais, quanto nas canções que emocionam a cada momento. Começando por Hugh Jackman, o qual tem levado duras críticas por não cantar ser tão afinado, em parte até concordo que o timbre de sua voz não combinou muito com o canto, mas seu esforço é visto com um merecimento esplêndido, o que ele faz em cena mudando visual e emocionando com sua atuação dramatizada de forma correta e pontual é para poucos no cinema, merecidamente indicado aos prêmios, uma pena apenas ter caído no mesmo ano que o monstro Daniel Day-Lewis("Lincoln") senão taria no papo. Anne Hathaway embora não fique muito tempo em tela é uma obra de arte o que faz na canção "I Dreamed a Dream" e depois em "Epilogue", não tem como perder nenhum dos prêmios que está disputando, se você não soltar pelo menos uma lágrima junto com sua canção pode se considerar a pessoa mais insensível do mundo, pois está perfeita no quesito vocal e na forma dramática que conduziu cada momento do seu personagem. Russell Crowe faz aquele famoso papel de vilão que odiamos ao mesmo tempo que adoramos, parece estar presente a todo momento para nos dar raiva e ficarmos nervosos com o que faz, mas isso é perfeito e sua entonação nas canções está com um timbre perfeito que aliado à sua imponência dramática colocada no personagem, o torna tão grande quanto já é, perfeito, uma pena não ter sido indicado a nenhum prêmio pelo papel que com certeza merecia mais que alguns que estão nas listas. Amanda Seyfried não diria que está perfeita no quesito atuação, afinal suas faces sempre pesam para a mesma forma, mas como já está bem acostumada com musicais, o timbre da voz encaixa na medida suave que pede o filme e consegue fazer muito bem em alguns momentos. Outro que nunca imaginei que estaria tão bem em um filme é Sacha Baron Cohen que conseguiu fazer melhor ainda que em "Hugo", dando junto com Helena Bonhan Carter, a qual não consigo ver fazendo um papel normal, o tom cômico e muito bem colocado nas cenas que precisavam ser engraçadas, ambos dão um show na tela. Eddie Redmayne ainda acho que precisa sair do casulo, já é seu segundo filme que fica em evidência e faz somente o básico, não que esteja ruim aqui, mas tirando a sua canção principal, em alguns momentos ele parece fora do tom, além de ser o único que tem várias cenas recortadas ao invés de longos planos sequência como os demais fazem. Samantha Barks fazendo seu primeiro filme e o mesmo personagem que fez no concerto musical especial, mostra que tem potencial e encaixa muito bem na dramaticidade. As crianças Daniel Huttlestone e Isabelle Allen estão muito bem em cena, apesar de a voz da menina ser meio assustadora, podendo fazer filmes de terror muito em breve. Enfim, falei de todos os principais, mas todos os coadjuvantes e até mesmo os figurantes estão muito bem em cena, dando shows com coros bem encaixados para cada cena, engrandecendo cada momento do filme.

O visual em si do longa é muito bem feito, embora seja perceptível que a maioria dos cenários são computadorizados, porém o diretor se fez valer do seu melhor que é enquadrar ângulos curtos disfarçando um pouco tudo que poderia estragar se ficasse com planos muito abertos. Como o longa se passa em diversos lugares, tudo está muito bem colocado para representar cada ato, engrandecido por minúsculos objetos de cena que quando somados aos cenários ficam melhores ainda. A fotografia de Danny Cohen é algo completamente impressionante, trabalhando com cores diferentes e marcantes a todo momento, nos faz ficar impressionados com tudo que vemos na tela, usando lentes diferenciadas para fechar nos ângulos que o diretor quer ele nos deixa completamente sem chão, e isso se fosse em qualquer outro filme com certeza não funcionaria, mas aqui como queremos que a teatralidade funcione, é perfeito. Outro ponto que vale destacar são os movimentos de câmera inusitados vindos sempre a cada hora diferente encaixando muito bem com a edição escolhida para finalizar o longa.

A trilha sonora não podia ser melhor, afinal estamos falando de um musical, e como tudo é cantado do início ao fim, temos uma lista imensas de músicas muito gostosas de serem ouvidas que nos fazem emocionar, a exemplo da tão famosa "I Dreamed a Dream" e claro a indicada ao Oscar feita especialmente pro filme "Suddenly", na qual Hugh Jackman detona de uma forma impressionante que ficamos pensando o que mais esse ótimo ator pode fazer.

Enfim, um filmaço com F maiúsculo, que pode até ter alguns defeitos imperceptíveis numa primeira olhada, mas que com certeza quero muito ter em casa para rever muitas vezes, pois é um filme bem grande que não cansa em momento algum. Realmente recomendo para todos, e que vejam da forma que me foi dita, pois do contrário acredito que realmente incomode não ter uma história com um drama contado de forma histórica. Quanto da nota até poderia arrancar alguns décimos por esse motivo da narrativa ser um pouco diferenciada, mas me apaixonei pelo longa então não tem como. Fico por aqui hoje, mas teremos muitos filmes nessa semana toda, então aguardem por vários posts aqui no blog. Abraços e até breve pessoal.