Crítica sobre o filme "Selvagens":

Rubens Ewald Filho
Selvagens Por Rubens Ewald Filho
| Data: 16/10/2012

Faz tempo que Oliver Stone perdeu a mão e o prestígio, em parte pela reputação de ser drogado e ansioso para criar escândalos que possam resultar em filmes polêmicos. Este aqui passou completamente em branco (seu orçamento e bilheteria americanos foram o mesmo, por volta de 45 milhões de dólares) embora seja basicamente um grande delírio (logo no começo a narradora Blake Lively, da série Gossip Girl, avisa que pode estar mentindo, o que abre as portas para Stone contentar todo mundo e fazer dois finais completamente diferentes. Nenhum dos dois muito convincentes). Em parte, porque o delírio a princípio mostra uma vida cor de rosa como produtor independente de maconha na Califórnia.

O filme é a princípio um conto de fadas para dois rapazes muito amigos que se amam muito, mas não há nada de gay, eles sublimam esse amor dividindo a mesma garota (o filme é um dos raros recentes que tem cenas de sexo bastante cruas) e sem aparentes problemas. Ou seja, um triangulo ideal sustentado e apimentado pela maconha high-tech (criada com alta tecnologia, embora a produção do filme tenha feito questão de demonstrar que eram imitações, não a era de verdade!).

Da metade em diante, a vida deixa de ser perfeita porque entra o homem para estragar tudo, mais claramente o Cartel mexicano, dirigido por uma mulher, que promove cenas de tortura e morte, das mais variadas e desprezíveis, às vezes fazendo lembrar o que havia de pior  no cinema mexicano dos anos 70.

Francamente, este é um filme difícil de defender, cheio de literatice. Stone, por exemplo, começando dando a definição do que é ser selvagem! Depois em outros momentos usa até o pensamento de Buda, para dar sentido à história. Mas a maior parte do tempo é apenas a descrição da felicidade do trio usando drogas e fazendo sexo, até quando os invejosos maus (representado por uma agente antidrogas do governo, extremamente mal interpretado por John Travolta) e os horripilantes traficantes, que por pura vilania e baixas ambições, resolvem acabar com os garotos simpáticos que estavam apenas se divertindo.

Nessa altura, é tanta gente explodindo ou pegando fogo ou simplesmente sendo cafona (é outro filme que dá uma horrível imagem do México) que fica difícil suportar o filme que tem um dos elencos mais repulsivos deste lado dos trópicos. Benicio del Toro ganhou um Oscar de coadjuvante que nunca se justificou e que aqui demonstra ter sido um total equívoco.

Salma Hayek não tem estofo para segurar um personagem mais forte recorrendo a truques e gracinhas de baixa comicidade. O trio central ao menos é fotogênico e parece feliz em se despir e puxar fumo. Isso inclui o Taylor Kitsch, que entrou para a história como o astro de três grandes fracassos seguidos e mesmo assim não terminou sua carreira, Deus seja louvado! (já fez dois filmes depois deste! Só queria saber quem é o padrinho dele, esse sim é o santo forte!).