O norte-americano Oliver Stone filma com orgasmo de montar um filme. Mesmo que o espectador possa queixar-se de sua superficialidade de filmar, que apela com relativa facilidade para aspectos sensoriais do cinema (outro americano, Quentin Tarantino, faz algo parecido, porém com muito mais acuidade fílmica), é inegável que o cineasta tem o dom narrativo do cinema.
Selvagens (Savages; 2012) não deverá decepcionar seus admiradores mais cativos. A montagem começa trêfega, ágil, com a narradora maliciosa (em voz-over) da personagem de Blake Lively, que vai contando seu agitado e emocionante relacionamento com dois homens no mesmo cenário, na mesma cama, em atos que incluem os três simultaneamente, um triângulo consentido, como no francês François Truffaut porém com a liberação carnal de hoje. Numa das cenas iniciais, onde exubera sexo, a narradora, falando de um dos amantes, o ex-combatente da guerra no Iraque, usa astuciosamente da uma aliteração em inglês de difícil transposição para o português: diz que ele não tem propriamente “orgasms”, como ela, mas “wargasms” (algo como um orgasmo belicoso, cheio do espírito da guerra, “war”, mas o essencial está na proximidade fonética das sílabas iniciais das duas palavras, “or” e “war”).
É verdade que em seu curso Selvagens perde seguidamente o fio do ritmo e a força de sua violência física é demasiado oscilante. Mesmo assim, é um espetáculo que vale a pena.