Temos aqui a segunda tentativa de adaptar para o cinema os violentos quadrinhos cult criados por Carlos Ezquerra e John Wagner. A anterior foi O JUIZ (JUDGE DREDD), filme de ação juvenil estrelado por Sylvester Stallone em 1995, que não agradou aos fãs, à crítica e nem ao público em geral. Um fracasso completo, portanto. Dezessete anos se passaram até que o Juiz Dredd recebesse uma nova chance cinematográfica, agora encarnado por Karl Urban (o Dr. McCoy dos filmes STAR TREK de J.J. Abrams).
DREDD – O JUIZ DO APOCALIPSE (DREDD, 2012) foi rodado na África do Sul sob a direção de Pete Travis, com um roteiro de Alex Garland que procura ser fiel ao personagem e às HQs originais. Assim, ao contrário do que aconteceu no filme de 1995, Dredd nunca tira seu capacete e a trama é repleta de cenas sangrentas, mostradas sob o efeito da droga Slo-Mo (como o nome indica, para o usuário da droga o tempo passa muito lentamente, como se tudo acontecesse em câmera lenta – slow motion). Apesar do orçamento modesto a produção é bem cuidada, a direção de Travis é afiada como um bisturi e o elenco, sem grandes estrelas, dá conta do recado com competência, especialmente Urban e Lena Headey (a Cersei Lannister da série GAME OF THRONES).
No entanto, apesar de ser bem aceito pelos fãs e de ter recebido críticas na maior parte positivas, algo novamente deu errado. O maior problema é que a trama, exceto pelos personagens e os elementos futuristas, é praticamente uma cópia carbono do filme indonésio OPERAÇÃO INVASÃO (THE RAID – REDEMPTION, 2011), lançado um ano antes. A situação mostrada nas duas produções é basicamente a mesma: membros de uma equipe policial de elite ficam isolados em um prédio-cortiço dominado por um chefão das drogas, e tem de sobreviver aos ataques dos traficantes e habitantes do local e, ao final, enfrentar o chefão.
Garland, quando escreveu seu roteiro, provavelmente nunca imaginou que o longa indonésio fosse fazer sucesso fora do seu país, e o plagiou descaradamente. DREDD – O JUIZ DO APOCALIPSE, se isolado de OPERAÇÃO INVASÃO, é muito bom, e ao contrário do padrão dos filmes baseados em heróis da DC e Marvel, traz uma trama adulta que não faz concessões para atrair o público infanto-juvenil e, portanto, faturar a mais nas bilheterias. Uma pena que, apesar das declarações esperançosas de Garland e de Urban, seu fracasso financeiro certamente fará com que dificilmente vejamos novamente Dredd nas telas tão cedo – se é que ele retornará a elas algum dia.