Crítica sobre o filme "Círculo de Fogo":

Jorge Saldanha
Círculo de Fogo Por Jorge Saldanha
| Data: 20/08/2013

Como se nota do resumo da trama de CÍRCULO DE FOGO (2013), este novo filme do diretor Guillermo del Toro é uma grande homenagem aos animes, filmes e tokusatsus japoneses com Mechas e monstros gigantes. É como se Del Toro pegasse GODZILLA, GUNDAM e NEON GENESIS EVANGELION, entre  outros, e os misturasse para criar o argumento e a parte visual de sua aventurasci fi de Us$ 180 milhões. Assim, o grau de satisfação do espectador com o longa dependerá basicamente de sua apreciação pelo material original.

No entanto, mesmo parte dos fãs dessas fontes torceram o nariz para o filme, já que Del Toro optou por uma trama simples com ênfase na ação, passando longe de questões existenciais mais profundas existentes nas melhores e mais modernas obras japonesas do gênero, como o citado EVANGELION. Além disso a construção geral dos personagens, sem o benefício da serialização, é feita de forma um tanto apressada, o que termina por destacar os estereótipos. E os clichês estão todos lá: o complicado herói relutante, a heroína assombrada pelo passado, o veterano comandante linha dura, a dupla de personagens engraçados, etc.

Fica claro que a ambição argumental ficou de lado e o propósito, aqui, é a aventura em alta escala direcionada ao público jovem, ou para os mais velhos que cresceram assistindo a filmes e séries japonesas antigos – que, justiça seja feita, tinham a profundidade de um pires. Ainda assim, para o que se propõe o filme, há algum desenvolvimento dos personagens principais, especialmente de Stacker (o excelente Idris Elba) e de Mako (a bela Rinko Kikuchi). O ator-fetiche de Del Toro, Ron Perlman, dessa vez tem participação secundária como um magnata do comércio de órgãos de Kaiju (sem dúvida o aspecto mais original do argumento), que aliás protagoniza uma cena oculta entre os créditos finais.

O principal problema de CÍRCULO DE FOGO talvez seja que, apesar de terem sido gastos muitos milhões para criar monstros e robôs, a maior parte dos combates se passa em ambientes escuros ou chuvosos (não raro escuros E chuvosos), como que para ocultar deficiências dos efeitos visuais. Mesmo que seja o caso, Del Toro deveria ter assumido o lado trash do gênero, que sempre se caracterizou por exibir desavergonhadamente dublês em fantasias de borracha, e mostrar os confrontos titânicos às claras, mesmo revelando alguns “defeitos” especiais. Assim não o fazendo deixou os combates confusos, tanto que mesmo em uma tela IMAX 3D muitas vezes não conseguia distinguir o que era Jaeger e o que era Kaiju.

De qualquer maneira, apesar desses senões, CÍRCULO DE FOGO é um bom e divertido programa, com uma interessante trilha sonora de Ramin Djawadi e que abre caminho para o novo GODZILLA norte-americano que estreia ano que vem – filme que, a propósito, é da mesma Legendary Pictures que produziu o de Del Toro.