Crítica sobre o CD "Oblivion - Original Motion Picture Soundtrack" do filme "Oblivion":

Jorge Saldanha
Oblivion Por Jorge Saldanha
| Data: 09/09/2013

O diretor Joseph Kosinski, a cada filme, vai definindo suas marcas registradas. Após assistirmos a Oblivion (2013), filme seguinte à sua estreia em Tron: O Legado (2010), podemos afirmar com firmeza que a criação de espetáculossci-fi visualmente deslumbrantes é uma delas. Estética à parte, há uma diferença importante entre as duas realizações: se o primeiro era a continuação de um filme cultuado, o segundo é uma criação original de Kosinski, que concebeu Oblivion inicialmente como uma graphic novel. Dito isso, é forçoso reconhecer que seu novo filme busca inspiração em muitas obras que o precederam, produções que vão desde O Planeta dos Macacos até a animação Wall-E, passando por Independence Day e os filmes de outro jovem cineasta talentoso, Duncan Jones.

Indo na contramão de muitos que, por usar essas inspirações, consideraram Oblivion um filme destituído de qualquer originalidade, acho que Kosinski conseguiu usar essas referências para criar um filme suficientemente único para fugir do padrão das aventuras de ficção científica usuais que, a cada ano, Hollywood lança no circuito exibidor mundial. Aliás, no gênero, para mim o longa foi uma das boas surpresas de 2013, um raro exemplo de obra comercial contemporânea que, ao seu final, comove e não deixa (em princípio) margem para continuações. Oblivion é um filme que se basta por si só, satisfeito em fazer com que o espectador saia do cinema preservando em sua memória momentos, imagens e sons preciosos.

E falando em sons, Kosinski define na trilha sonora original de Oblivion uma segunda marca registrada. Se em Tron: O Legado ele escolheu o duo de música eletrônica francês Daft Punk para, em parceria com o competente compositor e arranjador Joseph Trapanese, criar o score do filme, emOblivion ele junta a Trapanese outra dupla francesa, desta vez o M83. Na verdade, apenas um dos membros da dupla de electropop, Anthony Gonzalez, teve participação ativa na composição da trilha sonora juntamente com Trapanese, mas pelo jeito, o M83 ganhou crédito por razões puramente comerciais.

A música de Oblivion possui, em sua essência, as mesmas características da que ouvimos em Tron: O Legado. Trata-se, portanto, de um score que alterna elementos plenamente orquestrais com outros exclusivamente sintéticos, estes nos lembrando antigas trilhas do grupo Tangerine Dream ou do diretor/compositor John Carpenter. Com frequência esses elementos se complementam, e como emTron é perceptível a influência dos trabalhos do compositor Hans Zimmer para os filmes do diretorChristopher Nolan.

Não tenho dúvida de que o responsável por essa similitude seja Trapanese, que tem em seu crédito exclusivo a trilha sonora da série animada Tron: Uprising, que muitos consideram até superior à do filme que lhe deu origem. No caso específico de Oblivion, tanto filme como trilha possuem um forte núcleo emocional que complementa o esmero técnico, o refinamento visual e o acabamento musical. E nesse caso o mérito é, principalmente, de Gonzalez, que criou um tema principal forte e belo que faz com que o score, em seu miolo constituído de faixas genéricas ambientais, de suspense e ação, fique com o espectador após o encerramento do filme.

O tema de Gonzales é extremamente eficaz para evocar o mote principal de Oblivion – as memórias. A melodia, bonita e triste, provoca no espectador um senso de nostalgia comum a certas lembranças, e essa é a principal razão de sua eficácia emotiva. O tema surge em grande estilo na segunda faixa do álbum, “Waking Up”, que inicia discreta mas cresce até adquirir um tom mais grandioso, épico, que em seu ápice acompanha o surgimento na tela do título do filme.

A terceira faixa, “Tech 49”, inicia de forma genérica porém com momentos de suspense e até de horror, até chegar a um dos melhores momentos da combinação de rock eletrônico e orquestra que caracteriza a partitura. Ela é seguida por “StarWaves”, uma bela faixa que nos faz sentir como se, de fato, estivéssemos contemplando estrelas.

A capacidade de a música transmitir eficazmente sensações ao ouvinte é novamente comprovada em “Earth 2077”, que com seus sintetizadores e batidas “viajantes”, faz com que o ouvinte se sinta voando sobre amplas paisagens. O tema principal de Gonzales tem uma de suas interpretações mais destacadas e emotivas em “I’m Sending You Away”, que mais uma vez inicia em ritmo lento, vai crescendo até atingir um grande momento com ritmo de bateria e, ao final, termina calmamente em piano.

A jornada do personagem Jack Harper (Tom Cruise) ao encontro dos alienígenas responsáveis pela quase destruição da Terra é acompanhada por “Temples of Our Gods”, uma efetiva e sombria faixa com coral. O encontro em si é acompanhado por outro destaque da trilha, “Fearful Odds”, que novamente traz o tema principal e que, como em ocasiões anteriores, atinge um clímax acompanhado por bateria.

O tema de “Jack’s Dream” retorna, na sua versão mais bem acabada, em “Undimmed by Time, Unbound by Death”, uma faixa belíssima e sonhadora que evoca memórias de uma civilização e amores perdidos. Ela prepara o terreno para o encerramento com chave do ouro do álbum, que chega em “Oblivion”. Contando com a inspirada interpretação da cantora Susanne Sundfør, ela reserva para os créditos finais a versão definitiva do tema principal de Gonzales. Praticamente é a versão vocal do tema ouvido em forma instrumental na faixa “I’m Sending You Away”, com forte acompanhamento de bateria e novamente com o encerramento emotivo ao piano.

Resumidamente, Oblivion é uma trilha sonora que casa perfeitamente com o filme, e vice-versa. Poder-se-á argumentar que ela perde força se ouvida separadamente das inspiradoras imagens criadas por Joseph Kosinski. Para mim, pelo menos, ela por si só é evocativa, ao demonstrar ser muito efetiva em transmitir emoções e sensações graças, principalmente, ao fantástico tema principal e ao seu emprego recorrente na partitura.

Faixas:

  1. Jack’s Dream (01:22)
  2. Waking Up (04:09)
  3. Tech 49 (05:58)
  4. StarWaves (03:41)
  5. Odyssey Rescue (04:08)
  6. Earth 2077 (02:22)
  7. Losing Control (03:56)
  8. Canyon Battle (05:58)
  9. Radiation Zone (04:11)
  10. You Can’t Save Her (04:56)
  11. Raven Rock (04:33)
  12. I’m Sending You Away (05:38)
  13. Ashes Of Our Fathers (03:30)
  14. Temples Of Our Gods (03:14)
  15. Fearful Odds (03:09)
  16. Undimmed By Time, Unbound By Death (02:26)
  17. Oblivion (05:58) – Susanne Sundfør