Sem dúvida a Marvel não pode ser acusada de falta de ousadia. Para os filmes do seu atual universo unificado, ela tem recorrido a diretores inesperadamente variados como Jon Favreau, Kenneth Branagh e Joss Whedon. Para esteHOMEM DE FERRO 3 (2013), o eleito foi Shane Black, que como roteirista ganhou renome a partir da franquia MÁQUINA MORTÍFERA. Ator eventual, Black apareceu em filmes como O PREDADOR (1987) e ROBOCOP 3 (1993), tendo estreado na direção com BEIJOS E TIROS (2005), no qual dirigiu o próprio Tony Stark, Robert Downey Jr. (cuja influência deve ter sido decisiva para a sua contratação).
Desde o início, Black aplica ao filme seu toque pessoal, traduzido em sequências movimentadíssimas (a mais interessante, provavelmente, seja o resgate aéreo dos tripulantes do Força Aérea Um) e uma bem humorada ironia que se espalha ao longo da trama. Mas talvez o que mais diferencie este HOMEM DE FERRO 3 dos dois títulos anteriores seja a abordagem dada ao personagem principal. Em consequência dos eventos ocorridos em OS VINGADORES, Stark agora sofre frequentemente de ataques de ansiedade, e o argumento busca o tempo todo enfatizar que, em que pese todo o aparato tecnológico, é o homem (Stark) que importa, e não sua armadura voadora.
Para reforçar essa ideia, vemos desde cedo a tendência de separar Stark de suas armaduras (que agora podem ser controladas remotamente), primeiro por uma série de defeitos apresentados pelo protótipo da nova Mark 42, e finalmente (SPOILERS) com a destruição de todas elas. Provavelmente também aqui temos o dedo de Robert Downey Jr. que, livre a maior parte do tempo de sua máscara de ferro, dá um show e se consagra como o melhor e mais carismático ator a ter encarnado um super-herói nas telas.
O grande público parece ter adorado a visão de Black, tanto que HOMEM DE FERRO 3 tornou-se o segundo filme mais rentável da Marvel, tendo rompido a barreira do Us$ 1 bilhão nas bilheterias e ficando atrás apenas de OS VINGADORES. No entanto, fãs mais fervorosos do personagem nos quadrinhos não gostaram das liberdades tomadas com a tecnologia Extremis, da transformação do Máquina de Combate (Don Cheadle) no Patriota de Ferro e, principalmente, da caracterização do vilão Mandarim, que no filme é apresentado inicialmente como um frio terrorista à la Bin Laden, e que depois… bem, se você ainda não assistiu, não irei estragar a maior surpresa de todas. Basta dizer que, sob qualquer circunstância, a atuação de Ben Kingsley é um dos trunfos do filme.
Particularmente, acho que o que realmente prejudica HOMEM DE FERRO 3 é um “efeito colateral” criado pelo universo compartilhado da Marvel. Nele a S.H.I.E.L.D., desde o primeiro filme, foi um elemento de ligação e, de uma forma ou outra, quase sempre foi parte ativa em suas tramas. Agora, após OS VINGADORES, parece que a organização cumpriu sua missão e simplesmente se mudou para a TV (aliás, a série MARVEL’S AGENTS OF S.H.I.E.L.D. estreia este mês). Fora uma referência à “fontes da S.H.I.E.L.D.”, nada mais dela há nesta aventura, o que fica difícil de engolir principalmente porque em filmes comoHOMEM DE FERRO 2 e THOR ela entrou em ação por muito menos. Parece que a Marvel não aprendeu direito sua própria lição – a de que grandes poderes trazem grandes responsabilidades…