Crítica sobre o filme "Além da Escuridão: Star Trek":

Jorge Saldanha
Além da Escuridão: Star Trek Por Jorge Saldanha
| Data: 22/10/2013

Quatro longos anos separam este ALÉM DA ESCURIDÃO – STAR TREK (2013) do ótimo filme que, sob a direção de J.J. Abrams, reiniciou a franquia que já se chamou JORNADA NAS ESTRELAS em uma linha de tempo alternativa, na qual acompanhamos a tripulação da nave estelar Enterprise em aventuras trazendo elementos conhecidos da série de TV original, porém com algumas diferenças marcantes. A vantagem da linha alternativa é que, além de preservar o cânone da franquia, tais elementos podem ser empregados em recursos dramáticos ousados, como ocorreu com a destruição de Vulcano, o mundo de Spock (Zachary Quinto), no filme de 2009.

Sem medo de criar polêmicas com os fãs mais radicais, desta vez os realizadores decidiram reinventar nada menos que Khan (Ricardo Montalban), o célebre vilão geneticamente alterado introduzido no episódio “Semente do Espaço”, de 1967, e que ressurgiu naquele que é considerado até hoje o melhor longa da franquia, JORNADA NAS ESTRELAS II – A IRA DE KHAN (1982). Com o sucesso de crítica e público, muitas continuações que lhe sucederam reaproveitaram a fórmula do “vilão vingativo que enfrenta a Enterprise com uma nave mais poderosa”, portanto não é surpresa que, no universo alternativo de Abrams, ela retorne e agora trazendo a tiracolo o próprio Khan.

Quando o excelente Benedict Cumberbatch, da série britânica SHERLOCK, foi escalado como o vilão de ALÉM DA ESCURIDÃO, Abrams criou toda uma campanha de desinformação para ocultar sua verdadeira identidade, que envolvia negativas puras e simples de que ele seria Khan e membros do elenco revelando “por engano” identidades falsas do personagem. Mesmo com a confirmação de que o personagem se chamava John Harrison, logo ficou claro que esse não era seu verdadeiro nome, e ironicamente, agora que o filme foi lançado em DVD e Blu-ray, ele é identificado como Khan até mesmo na sinopse da capa.

Em comparação ao filme de 2009, ALÉM DA ESCURIDÃO – STAR TREK, que teve a melhor bilheteria da série no cinema, é mais ambicioso, dramático e movimentado. Sequências de ação dignas de STAR WARS são frequentes, e não foi por acaso que Abrams, hoje um especialista em resgatar grandes franquias, acabou sendo escolhido para dirigir o próximo filme da saga criada por George Lucas. O problema é que, além de utilizar o mesmo vilão de A IRA DE KHAN, os roteiristas e produtores associados de Abrams Alex Kurtzman, Roberto Orci e Damon Lindelof, empregaram em ALÉM DA ESCURIDÃO diálogos e pelo menos um momento crucial do antigo filme, que perde na comparação por enfraquecer um grande momento dramático com uma solução apressada.

Também não ajuda o fato de que mais uma vez o roteiro deixa pelo caminho furos e imprecisões científicas, que poderiam facilmente ser resolvidos com um pouco mais de capricho. Por exemplo, se no filme anterior tínhamos uma inacreditável “supernova que poderia destruir uma galáxia”, neste vemos em órbita da Lua duas naves avariadas em combate que, instantes depois, já estão despencando na Terra. Além disso, nada no filme explica porque apenas o sangue do fugitivo Khan pode salvar a vida de determinado personagem, quando na enfermaria do Dr. McCoy (Karl Urban) há nada menos que 72 pessoas congeladas com o mesmo tipo de sangue.

Apesar desses senões, ALÉM DA ESCURIDÃO – STAR TREK se impõe como uma aventura sci fi eletrizante e tecnicamente primorosa, e que além de nos brindar com uma atuação fantástica de Cumberbatch promove o bem-vindo retorno de Peter Weller (o ROBOCOP original) ao cinema, em relevante papel. E ao final, remete a um importante evento do universo Trekker que, se bem explorado, poderá encerrar em 2016 (ano em que STAR TREK comemorará 50 anos), com chave de ouro, a trilogia de Abrams.