Crítica sobre o filme "Grande Gatsby, O":

Rubens Ewald Filho
Grande Gatsby, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 07/06/2013
Quem viu o trailer e ficou pensando que se trata de um novo Moulin Rouge vai ficar frustrado que o filme não é nada disso. A chamada faz pensar em algo delirante, fervente, tão louco quanto os anos vinte. Mas é apenas exagero do trailer que engana descaradamente o espectador. Ninguém joga nada na tela. O filme e seu uso da Terceira Dimensão esta muito mais próximo do que fez Martin Scorsese em seu filme Invenção de Hugo Cabret, simplesmente de lhe dar volume, destaque, profundidade, forma. E sem duvida vesti-lo de um certo charme e encanto. Torna o filme de certa forma bonito, exagerado, fica mesmo pertinho do over, do quase cafona, do caricato,  trata a delicada historia de amor como se fosse um numero do Cirque Du Soleil! 
 
Foi uma excelente ideia da Paramount em lançar justamente agora em Blu Ray, a versão anterior de O Grande Gatsby de 74 (ainda que em cópia sem nenhum absolutamente nenhum extra!). Tive a oportunidade de revê-lo e me parece interessante comentar varias coisas. Na verdade, é preciso remeter ao fato de que Gatsby é considerado a obra-prima do escritor F. Scott Fitzgerald (1896-1940) que não esta nem creditado na versão atual, muito autobiográfico já que realmente frequentou as festas de alta sociedade numa ilha perto de Nova York. Foi editada em 1924, quando ainda estava no auge (depois para sobreviver tentou escrever para Hollywood mas acabou derrotado pelo alcoolismo e a demência de sua mulher Zelda). 
 
Leitura obrigatória nas escolas americanas Gatsby pinta o retrato de um misterioso milionário que esconde a origem de sua fortuna (mas dá para saber por suas ligações com gangsters que tem a ver com contrabando e atividades escusas). Na verdade, ele alugou uma mansão espetacular e dá festas sensacionais e abertas a todos, na esperança de chamar a atenção de Daisy, por quem ele se apaixonou quando era muito jovem. E foi rejeitado porque como ela explica: “moça rica não se casa com homem pobre”. Agora ele vida no lado pobre da Baia observando o farol que ilumina a casa de Daisy do lado oposto e chique. 
 
Houve versões do livro ainda no cinema mudo, em 26, com Warner Baxter e Lois Wilson, dirigido por Herbert Brenon e depois outro esquecida mas interessante de Elliot Nugent, estrelado por Alan Ladd (a figura ideal para Gatsby), Shelley Winters (outra Mirtle perfeita), e a inadequada Betty Field como Daisy. O titulo era mais esquisito, Até o Céu tem limites
 
Além desta versão de 74, houve um telefilme de 2000 com Mira Sorvino e Toby Stephens (filho de Maggie Smith) e uma versão black disfarçada chamada G (G - Triangulo Amoroso, 2002) com Blair Underwood, Richard T. Jones. 
 
A ideia de fazer a versão de 74 na Paramount foi do então chefe de produção Robert Evans (o mesmo que  fez O Poderoso Chefão e Chinatown) que comprou os direitos em 1971,  porque achava que o papel de Daisy era ideal para sua então mulher Ali McGraw (que ele tinha revelado em Love Story). Infelizmente ela se apaixonou por Steve McQueen largou o marido e destruiu a carreira.  O roteiro estava sendo feito por Truman Capote mas na versão dele Nick era homossexual e Jordan uma vingativa lésbica. Coppola reescreveu tudo em três semanas e foi bastante fiel ao original. A escolhida acabou sendo Mia Farrow  que estava grávida (o que é não tão discretamente escondido). O curioso porém é que ela com todo seu ar de sonsa e sonada é  melhor do que a atriz da versão atual, a chata e sem  brilho Carey Mulligan. Mia consegue passar a frivolidade e o vazio do personagem, assim como ao menos refletir suas duvidas e anseios.
 
A artificialidade ela construiu para ar consistência a um papel difícil porque é contraditório. Ainda que mais ingrato ainda seja o de Gatsby, que é passivo e tem menos chance ainda de se explicar (e quando o faz resulta tolo). Mia dizia com razão que Redford não tinha a menor química com ela . O ator costumeiramente bonitão, aqui parece realmente ausente. Mas os dois filmes tem em comum ainda o fato de terem um elenco muito discutível, ou seja, errado. Jordan em 2013 mal abre a boca, na de 74, Lois Chiles ao menos tem charme - Sam Waterston com cara de presidente Lincoln ao menos tem seriedade. O amigo na vida real de Leonardo Di Caprio, o ex menino aranha Tobey McGuire não consegue sustentar o personagem tão importante do narrador (e primo de Daisy). Na verdade, não gosto de ninguém no filme. Nem dos coadjuvantes nem de DiCaprio, que parece constrangido com tudo aquilo, nada a vontade. O roteiro não ajuda porque eles nunca se explicam. Mesmo o contato sexual é mostrado de passagem e sem grandes conseqüências.
 
A única cena que tem certa força é que Gatsby perde a paciência na festa no apartamento na cidade mas não tem o devido impacto porque dali em diante tudo se precipita para o final. A versão de 74 era mais fria mas também mais bonita, delicada. Mas em nenhuma delas o romance impossível consegue nos convencer. Será porque todo o filme foi rodado na Austrália, em locações em estúdio ou seja tudo ficou estilizado? Nada é aprofundado (ainda assim em sua defesa é preciso dizer que o estilo do livro e do autor também é assim, nada escancarado, conservando sempre certo mistério). Apesar de feérico, este Gatsby resulta frio e longo, e também se diferencia da versão anterior  porque aquela ainda  mostrava a chegada do pai do herói, um homem humilde (o que ajuda a entender melhor sua identidade , tentando decifrar o mistério de quem foi realmente Gatsby).
 
Tenho dificuldade de entender porque o êxito do filme nos EUA, Agora com 130 milhões de dólares de renda  não acho que funciona nem mesmo como historia de amor. Mas pode ser que seja essa a solução, aqui perto do dias dos namorados e na falta de alternativa romântica melhor, seu impressionante visual pode funcionar.