Se existe um estilo de filme que vamos assistir sem esperar nada é o de carteis de drogas que envolvam crimes, pois não dá para prever se irá ficar light com apenas algum suspense ou se partirá mais o estilo mafioso e violento, já que assistimos filmes feitos de ambas as formas. Então imagine a mistura dos dois estilos num único filme chamado "O Conselheiro do Crime", onde tudo, mas tudo mesmo é possível, desde cenas selvagens sexuais e de animais, até muita violência não apenas física, mas verborrágica, onde alguns diálogos são grandes pensamentos que ligam bem a história mas que poucos atores conseguiriam fazer tão bem dramatizadas. Porém, embora seja forte no quesito sangue, suspense e dramatização, o roteiro acabou ficando um pouco bagunçado e acaba não deslanchando como deveria, ficando mais preso nas interpretações dos atores do que na história em si.
O filme nos mostra que um advogado está prestes a se casar com sua noiva, e decide juntar dinheiro participando de um dos esquemas ilegais organizados por seus clientes. O plano envolve o tráfico de centenas de quilos de droga, no valor de 20 milhões de dólares. Apesar de hesitar no início, ele aceita. Mas a execução do esquema não ocorre como planejado, e logos todos serão visados pelos chefes de um cartel mexicano. Enquanto os outros parceiros têm experiência no crime e sabem como desaparecer, o advogado não sabe como agir, e teme pela segurança de sua noiva. Sem escapatória, este homem perturbado começa a refletir sobre seus atos, tendo que aceitar as consequências brutais de seu envolvimento no crime.
Não sendo machista demais, já adianto um pouco dizendo que muitas mulheres não gostarão muito do filme, pois na sala onde assisti, era notória a diversão masculina enquanto algumas moças estavam de cara amarrada na saída. Mas como sempre há exceções, com certeza haverá as que irão gostar bastante também. Dito isso, é fácil observar como Ridley Scott ainda possui uma mão boa para dramas e consegue fazer seus atores trabalharem muito bem o primeiro roteiro para cinema do escritor renomado Cormac McCarthy. E esse detalhe do roteirista ser um escritor de livros fica claro nos tamanhos dos diálogos, tendo momentos que o mesmo ator fala em quantidade de legendas umas 10 linhas seguidas, e o melhor fica muito bom esses textos longos, pois se pararmos e analisarmos eles, conseguiremos montar o filme todo praticamente sem nenhuma ação, mas como acabamos indo na maior parte do tempo nas interpretações do elenco estelar, acabamos nos perdendo um pouco na história e muitos vão até classificá-la como fraca, pois irão ficar esperando mais algo que não é necessário ser mostrado. E esse problema de não ser mostrado tudo é em parte grave, pois muita coisa acaba não sendo explicada nas entrelinhas, então alguns personagens acabam jogados na história tendo vindo do nada e principalmente levando a lugar algum, faltando elos maiores para que tudo ficasse redondo.
Bom, esse ano parece que os atores hollywoodianos resolveram trabalhar realmente né, pois a cada dia aparece um novo nome que apostaria fácil pelo menos uma indicação à prêmios, e a bola da vez aqui é Cameron Diaz, sim uma das atrizes mais criticadas por todos, vem toda caracterizada num figurino bem sexy e misterioso, com diálogos precisos e cravejados de muita maldade, onde acerta na medida para o que seu personagem pedia, além claro de uma das cenas de sexo mais polêmicas que já fizeram no cinema, deixando até o personagem esquisito de Javier Bardem sem palavras. Falando em Bardem, é notável que em quesito de personagens diferentes ele só anda perdendo para Johnny Depp no cinema, e novamente faz um criminoso mais estranho possível, com roupas coloridas e trejeitos interessantes, só capricharia mais no sotaque espanhol dele que anda sumindo demais e aqui por ele estar no México acredito que agradaria mais. Michael Fassbender consegue mostrar muita personalidade para um advogado corrupto e finaliza sua participação com uma dramatização exagerada, mas que cabe bem no contexto da história, ficando bonita de ver. Brad Pitt agrada também no quesito de boa interpretação de diálogos, mas seu personagem é um dos que acabam um pouco jogados ao vento, e ele auxilia isso com olhares tão vagos que em momento algum encontram a câmera, poderia ter trabalhado um pouco mais o personagem que mesmo sua história sendo aberta ficaria mais agradável de acompanhar. Agora do elenco estelar, alguém tinha de ser a decepção da noite, e ela coube a Penélope Cruz, que dando um pequeno spoiler, teve seu final no mesmo nível de sua atuação, quem assistir entenderá e irá rir muito desse meu comentário, pois a atriz já teve muitos melhores papéis e aqui não fez nem 1% do que sabe. Os demais todos são em sua maioria figurantes de luxo que possuem algumas falas até interessantes para a trama, mas se o filme com seus 111 minutos não conseguiu desenvolver nem os protagonistas direito, quanto mais os papéis menores, mas vale a pena prestar muita atenção nos momentos iniciais de Bruno Ganz como um avaliador de diamantes que já dita algumas boas pistas para o restante do filme.
Outro bom fator do longa está no visual perfeito de elementos cenográficos que conseguiram escolher com precisão, desde a riquíssima e excêntrica casa do personagem de Bardem, que possui dois pequenos "gatinhos" de estimação, e tudo é muito colorido e bem produzido, até um caminhão de coleta de esgoto que damos graças a Deus por o cinema com cheiro não ter vingado tanto, embora existam algumas salas por aí, pois se apenas vendo os atores passando mal com o cheiro, imagina sentirmos também. Além disso, temos vários elementos bem mostrados para caracterizar cada personagem desde seu figurino até as coisas que usam, ou seja, tudo muito bem caprichado desde os personagens até as ótimas locações. A fotografia optou por um tom amarelado bem leve nas cenas abertas e tons mais escuros nas cenas internas para dar um pouco mais de tensão, tirando claro todas as cenas que envolvessem Barden, que o exagero de cores predomina por onde passa.
Enfim, é um filme que não dá para ficar em cima do muro, ou você vai gostar ou não, possui alguns defeitos que atrapalham um pouco como disse acima, mas nada que desmereça a qualidade técnica tanto do diretor quanto do elenco no geral. Poderiam ter desenvolvido melhor alguns personagens e a história para que tudo ficasse conectado de forma mais clara, mas é uma opção de risco que alguns diretores costumam preferir deixando aberto para as devidas conclusões de cada espectador, e nem sempre dá certo. Mas na totalidade me agradou e divertiu, tanto que recomendo principalmente para aqueles que gostam de filmes mais violentos, mas que não sejam de violência gratuita, afinal como todos sabemos quem mexe com o crime está aberto às suas consequências.