Tirando a recente trilogia BATMAN do diretor Christopher Nolan, a Warner não estava tendo sorte com as adaptações cinematográficas de personagens da DC Comics. O malsucedido SUPERMAN: O RETORNO (2006) aparentemente sepultara de vez a carreira do Kriptoniano nas telas, e a tentativa de recorrer a um super-herói fora da dobradinha Batman/Superman, com o mal escolhidoLANTERNA VERDE (2011), beirou o desastre. Mas o estúdio, pressionado pelo estrondoso sucesso do universo cinemático da concorrente Marvel, resolveu apelar novamente para o mais tradicional dos heróis da DC, dessa vez atualizando-o para os tempos mais sombrios e menos ingênuos de hoje, como já fizera com o Morcego.
Assim, nada mais natural que apelar para os responsáveis pelo renascimento do Batman no século 21, Christopher Nolan e David S. Goyer. A dupla criou para O HOMEM DE AÇO (2013) um roteiro adequado à retomada contemporânea do mito de Kal-El (Henry Cavill, uma boa escolha e que busca afastar-se do “fantasma” de Christopher Reeve), enviado ainda bebê do condenado planeta Kripton para a Terra não só para sobreviver à destruição do seu mundo, mas também para tornar-se o guardião da humanidade. Para a direção foi escolhido Zack Snyder (300, WATCHMEN), que reconhecidamente entrega filmes de forte impacto visual – ainda que muitos torçam o nariz para suas marcas estilísticas.
Após o fracasso de público e crítica do autoral SUCKER PUNCH – MUNDO SURREAL (2011), havia grande expectativa para ver como Snyder se sairia no comando de um blockbuster no qual a Warner tanto apostava. Apesar de um resultado nas bilheterias que ficou aquém do esperado pelo estúdio (o longa faturou menos de U$ 700 milhões nas bilheterias mundiais), podemos dizer que, apesar de algumas falhas estruturais, O HOMEM DE AÇO e Snyder venceram o desafio com méritos. Para isso o diretor até abriu mão de parte de suas marcas registradas, como a alternância de tomadas em câmera lenta.
Talvez o fator mais complicado na produção seja que, ao contrário de Batman, Superman sempre foi basicamente um personagem bidimensional: a síntese do herói clássico, para quem não existe meio termo entre o bem e o mal. Assim, foi complicado inserir na trama elementos que aprofundassem o personagem e questionassem a sua essência, sendo o mais polêmico o fato de o Homem de Aço ser levado ao extremo de matar com suas próprias mãos – algo que nunca fora mostrado nas telas. Outra polêmica foi a contratação do compositor Hans Zimmer para criar a trilha sonora e que, obviamente, não utilizou nada dos temas que John Williams compôs para o clássico filme de 1978 (até porque eles diferem totalmente do seu estilo).
De resto, O HOMEM DE AÇO indiscutivelmente possui méritos para ser o melhor filme do personagem desde SUPERMAN: O FILME (1978) e SUPERMAN II (1980), dos quais, aliás, emprega boa parte de suas narrativas. Assim, nele vemos, muitas vezes de forma não-linear, o cientista Jor-El (Russell Crowe) enviando o bebê Kal-El para a Terra; a rebelião do General Zod (Michael Shannon); a condenação, juntamente com seus seguidores, de Zod à Zona Fantasma; a destruição de Kripton (que agora se assemelha a um mundo saído de AVATAR); a chegada de Kal El à Terra e seus primeiros anos com seus pais adotivos, o casal Kent (Kevin Costner e Diane Lane), em Smallville; a descoberta dos seus poderes; seu primeiro encontro com Lois Lane (Amy Adams); a chegada à Terra de Zod e suas forças; o grande confronto de Superman contra os vilões em Metrópolis; e por aí vai.
Claro que tudo isso é levado ao espectador com recursos narrativos adequados aos novos tempos – o filme inicia mostrando Clark como um andarilho, que vaga pelo mundo sem saber ao certo o que fazer com seus poderes, sem saber exatamente qual o seu propósito na Terra. As coisas mudam quando Clark usa anonimamente suas habilidades para salvar vidas, e posteriormente descobre uma antiga nave kriptoniana que finalmente lhe possibilitará ter acesso ao avatar de Jor-El e, por tabela, receber por completo sua herança alienígena.
Com uma trama centrada e fluída e sequências movimentadíssimas recheadas de efeitos visuais de ponta, O HOMEM DE AÇO se encerra com o protagonista em uma situação mais tradicional, e cria uma base mais sólida para a Warner/DC começar a construir seu novo universo dos quadrinhos. Acontinuação, que estreará em 2015, também marcará um novo reboot de Batman, já que nela o Homem de Aço encontrará (enfrentará?) ninguém menos que o Homem-Morcego, agora vivido por Ben Affleck. Como se vê, o estúdio não está disposto a evitar riscos e enfrentar polêmicas para pavimentar o caminho que poderá levar, daqui a alguns anos, ao tão aguardado filme da LIGA DA JUSTIÇA.