Crítica sobre o filme "Blue Jasmine":

Rubens Ewald Filho
Blue Jasmine Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/02/2014

Este é o melhor filme dramático de Woody Allen (embora nem por isso deixe de provocar alguns sorrisos) e foi indicado aos Oscars® de roteiro original , de atriz (já que Cate Blanchett, sem a menor surpresa, está magnífica)  e ainda coadjuvante Sally Hawkins. E também foi  sucesso de bilheteria nos Estados Unidos (33 milhões nos EUA, o que é muito bom para um filme de Allen, e 61 no exterior). Trabalha novamente com o fotografo de Vicky Christina Barcelona, o espanhol Javier Aguirresarobe agora  captando outra cidade marítima que tem bastante a ver com Barcelona, San Francisco.

A questão a levantar é a seguinte: tem gente que tem medo que a candidatura de Cate Blanchett esteja ameaçada por causa da campanha de imprensa que esta sendo feita contra Woody Allen, que continua a ser acusado de ter abusado de uma filha adotiva (embora já tivesse sido inocentado num tribunal). Como muita gente que acompanha o caso eu acho que a culpa é da mãe dela a companheira rejeitada que enlouqueceu e passou a perseguir Allen (não há duvida que Mia é perturbada mentalmente). Enfim, no momento em que escrevo poucos acreditam que isso interfira no resultado,  já que Cate levou todos os outros premio como o SAG, Globo de Ouro, SAG, Críticos de Nova York.

A primeira coisa que achei incrível é que nem todo critico tenha percebido o óbvio, que com o filme Woody fez uma homenagem à peça Um Bonde Chamado Desejo ou Uma Rua chamada Pecado (nome da versão de cinema com Marlon Brando memorável e Vivien Leigh) de Tennessee Williams. Homenagem mesmo, ele não copia nada, apenas aproveita alguns traços genéricos da peça (até porque Cate estrelou a remontagem mais recente, dirigida por Liv Ullman, que foi um imenso sucesso pessoal para a atriz!). Assim, esta Jasmine (Jasmin) na verdade é um nome de guerra que ela adotou para ficar chique. O filme começa com ela voltando de avião para vir passar uma temporada com a meia irmã (o fato é que ambas foram adotadas de origens diferentes) com quem nunca se deu bem, Ginger (a inglesa Sally Hawkins, que vimos em Revolução em Dageham, Simplesmente Feliz e que às vezes consegue se tornar aborrecida ao insistir nos mesmos tiques e trejeitos. Desnecessário dizer que aqui esta contida e na medida certa).As duas nunca foram próximas mas se trata de uma emergência. Jasmine acabou de ficar viúva e esta a beira de um colapso, pode ser mesmo que já esteja dominada pela loucura. Essa é a única saída a que pode recorrer e o obstáculo maior é o atual namorado dela um sujeito meio grosso e  machão feito pelo ótimo Bobby Cannavale (ganhou Emmy este ano por  Boardwalk Empire) que justamente faz lembrar o Stanley Kowalski de Brando. Aliás, ela tem um passado que confirma que gosta do gênero brutamontes porque foi antes casada com outro semelhante, Augie, que não gosta de Jasmine porque por causa dela perdeu uma fortuna que iria fazê-los mudar de vida. Esse papel é feito pelo comediante stand up  Andrew Dice Clay, que tentaram lançar como astro nos anos 1990, mas não era politicamente correto e foi rejeitado pela Mídia. Também não era especialmente bom mas aqui Allen achou um papel que lhe cabe como uma luva. Cafajestão.

Jasmine, como vão revelando os flash-backs, tem um problema. O marido dela (o indefectível  Alec Baldwin) a tratava como princesa e lhe dava uma vida de luxo e sofisticação, grandes mansões, joias, festas, gente chique. Mas também era um financista esperto e corrupto que eventualmente iria perder tudo e deixá-la na mais absoluta miséria. Por isso que ela é tão incompetente em viver sozinha e ainda mais em conseguir emprego, já que não sabe fazer nada. Não foi treinada para a vida real. E ainda lhe resta a mágoa recorrente de que o marido a traia constantemente com varias e belas mulheres. O problema é como reconstruir essa vida. De repente, do nada numa festa surge para as irmãs duas alternativas: Ginger conhece um sujeito despachado e de meia idade, com quem simpatiza (feito por Louis  C.K., o stand up do momento nos EUA com uma série de teve que já lhe rendeu varias indicações a prêmios); E Jasmine encontra um rapaz ambicioso, que deseja fazer carreira em política, aparentemente é muito rico (desta vez a direção de arte caprichou nos ambientes e casas) e começa a gostar dela.

Mais não se pode contar. Revelei ate bastante coisa porque com Allen, não é tanto a trama mas como ela é mostrada, interpretada (logicamente a trilha musical é com as velhas canções e gravações de sempre que ele adora e usa e abusa). Cate está esplêndida, sem nunca cair em exagero, ou overacting, super elegante e carismática. E tudo resulta numa historia bem contada, com algumas reviravoltas e surpresas, bastante lógica e humana. Para a gente que acompanha a sua obra desde sempre e se espantava com os dramas copiados de Bergman, tronchos e desajustados, é impressionante ver como ficou à vontade. É quase um filme como suas comédias só que com menos risadas. E como sempre curto (por volta de 90 minutos apenas). Assisti com muito prazer e outras vezes o farei. É um prazer ver um senhor diretor de 78 anos em plena forma.