Este ainda continua a ser o favorito para vencer o Oscar® de melhor filme do ano (embora Gravidade deva ganhar o de melhor diretor). Ao menos tem sido assim nos últimos meses. Realmente fica difícil a Academia deixar de lado, mesmo num ano rico em bons lançamentos (vários deles com temática negra, inclusive a vida de Nelson Mandela, que já não vai passar em nossos cinemas, sai direto em Home Video - o que hoje em dia significa muito pouco!). O problema dele é algo difícil de combater: todo mundo aprecia e elogia suas boas intenções, sua sinceridade, sua discrição e notáveis interpretações. Mas quando ficam sabendo do que trata a história não demonstram a menor intenção de assistir o filme. Dizendo que não querem ver sofrimento, ou historias tristes.
Além de não divulgar o orçamento, o filme rendeu no mercado americano até agora (já saiu das salas e esta para ser lançado em Blu-Ray) apenas 46 milhões de dólares (no mercado externo está por volta de 50!). Produzido por Brad Pitt (que faz papel pequeno para ajudar na comercialização), foi indicado para 9 Oscars®: filme, ator (o britânico de origem nigeriano Chiwetel), ator coadjuvante (o alemão/irlandês Michael Fassbender), atriz coadjuvante (Lupita Nyongo, nascida no México de pais do Quênia, formada em Harvard!), figurino, diretor, montagem, desenho de produção (ex-direção de arte) e roteiro.
Como a maior parte dos concorrentes deste ano, é baseado em fato real: por volta de 1853, antes de Guerra Civil americana, Solomon é um negro livre com família constituída que reside no estado de Nova York, mas que mesmo assim é sequestrado e vendido como escravo. Tenta se defender, mas é recebido com brutalidade por vários donos, em geral fazendeiros. Durante 12 anos, luta para se manter vivo passando por muitas tragédias e finalmente ajudado por um abolicionista canadense (Brad). O que narrou depois em livro.
McQueen não abdicou do estilo seco dos filmes anteriores (o mais famoso foi Shame). Filma quase tudo à distancia, com uma única câmera, num período muito rápido de 35 dias na Louisiana, fugindo de grandes emoções , sem nunca forçar o sentimental ou o suspense, ou enfatizar demais as cenas de tortura. Por outro lado o cinema norte-americano tem uma história curta de produções sobre o tema (a mais famosa foi feita para a TV, a minissérie Raizes/Roots, 77). Nunca encararam os fatos e as vergonhas e culpas que hoje só veem à tona por causa da presidência de Obama. E dessa forma este aparece como um divisor de águas, na sua honestidade e até mesmo coragem.
A revelação do filme não é tanto Chiwetel, conhecido já de outros trabalhos, mas a bela Lupita que tem chances de levar seu Oscar® apesar de estreante (já fez outro filme com Liam Neeson, Sem Escalas). O importante, como vários críticos acentuaram, é que evitam-se as lagrimas exageradas, prefere-se a racionalização. Solomon não é apenas uma pessoa, mas um povo subjugado e vilipendiado. De toda uma instituição, que custa a desaparecer em suas diferentes formas. Ainda que disfarçadas.
Acho que o cinema tem o dever e a obrigação de produzir filmes como este e a Academia em prestigiá-los. Ainda mais quando feitos com tamanho respeito e dignidade.