Crítica sobre o filme "Clube de Compras Dallas":

Rubens Ewald Filho
Clube de Compras Dallas Por Rubens Ewald Filho
| Data: 10/02/2014

Não existe mesmo dúvida de que a Academia adora quando algum ator emagrece ou engorda para determinado papel (por vezes comprometendo sua saúde) e com frequência os brinda com Oscars® ou indicações (o caso de Robert DeNiro com Touro Indomável, Christian Bale que engordou agora para Trapaça mas emagreceu demais antes em  O Operário , Renee Zelwegger em Diário de Bridget Jones, Anne Hathaway em Les Miserables ano passado, Charlize Theron em Monstro, Natalie Portman em Cisne Negro, Tom Hanks em Náufrago). Este ano temos dois nesse caso e ambos parecem ser os favoritos para melhor ator (Matthew McConaughey) e coadjuvante (Jared Leto). Foi também indicado como melhor filme do ano, montagem, maquiagem e penteados, roteiro original (ainda que baseado em atos reais). Teve um orçamento muito baixo mas ate agora não tem ido bem nas bilheterias (23 milhões nos EUA, não estreou ainda fora). Na direção temos um canadense que fez um autobiográfico delicioso que foi  C.R.A.Z.Y e a Jovem Rainha Vitória. Ao contrário deste último, que era todo requintado, aqui tudo é com câmera na mão, realista, sem frescuras.

Sem dúvida, o grande feito é da dupla de atores (faz tempo que não há dois ganhando assim pelo mesmo filme, desde O Bom Pastor com Bing Crosby e Barry Fitzgerald, em 44). Jared Leto é vitima de uma maldição em Hollywood, é bonito demais e como sucede com as mulheres, o preconceito também existe com os homens, nunca lhes dão papeis difíceis e ousados. Ele passou 5 anos sem filmar, cantando com sua banda de rock, e só retornou agora no papel de um transexual. Rayon, que ele interpreta para valer sem qualquer traço de caricatura. Deve levar o prêmio. Mas a surpresa maior é com Matthew, que fez seu nome em comédias românticas até quando se casou com uma brasileira (Camila Alves, com quem tem 3 filhos), que como ele mesmo contou no Globo de Ouro, deu-lhe um jeito. O fez acordar cedo, correr atrás de melhores papéis, buscar desafios. As mudanças vieram devagar (O Poder e a Lei, Bernie, Killer Joe, Obsessão, Amor Bandido e chegou ao “stripper” de Magic Mike). E está também em O Lobo de Wall Street, na primeira parte do filme, com a sequência que eu acho que vai virar cult, quando ele ensina ao jovem Leonardo a técnica de bater no peito.

A ação se passa em Dallas, Texas em 1985 (Matthew é de Austin) quando Ron Woodroof que é eletricista e montador de rodeios que leva uma vida de muita bebida, fumo, cocaína e mulheres . Também é racista e homofóbico. Mas leva um susto quando vai fazer um exame e descobre que tem HIV positivo. E provavelmente irá morrer em 30 dias. A princípio ele nega tudo, se ilude, mas com o tempo  fica irritado é com o governo federal, na época do Presidente Reagan, que hoje poucos lembram nunca admitiu a existência da doença oficialmente e assim impediu que fosse procurado algum remédio. A  morte de Rock Hudson viria a mudar um pouco isso, mas o drama aqui de Ron era o de muitos. A droga chamada AZT estava ainda em experiência e não era permitida. Dessa forma, para se salvar e ajudar outros doentes, Ron cria uma espécie de linha de contrabando de AZT para atingir a demanda e salvar vidas.

É um caso não tão incomum de pessoas que são obrigadas a sair da lei para corrigir a estupidez humana, com tanta frequência dos governos. O filme é o primeiro Classe A que eu vejo abordar o assunto e só mesmo o prestigio do Oscar® pode ajudá-lo a ser assistido por mais pessoas.