Crítica sobre o filme "Caçadores de Obras-Primas":

Rubens Ewald Filho
Caçadores de Obras-Primas Por Rubens Ewald Filho
| Data: 14/02/2014

Criou-se uma onda quando poucos meses antes da estreia prevista no Natal passado, o diretor Clooney pediu as produtoras (caso raro de parceria de  dois estúdios, Fox internacional e Sony americano) para adiar o lançamento do filme, dizendo que não deu tempo para concluir os efeitos especiais. Que efeitos? Qualquer criança perceberia o óbvio. Ele quis tirar o filme da corrida do Natal e do Oscar, quando algum sensato amigo lhe chamou a atenção que seu trabalho mais recente não teria qualquer chance de ser premiado! Não chega exatamente a ser uma bomba como aquele filme que Clooney fez e ficou esquecido (O Amor não tem Regras, 08, que apesar do nome era sobre esporte), mas não acredito que vá  ser sucesso.

 
Simplesmente porque é muito antiquado, parece um filme do começo dos anos 60 (tipo Os Guerreiros Pilantras, só que quadrado e bem comportado). E conta uma historia que quanto muito pode interessar os mais velhos e intelectualizados. Inspirado em fato real, conta a historia também verdadeira (o livro é bem longo e documentado) conta mais uma desgraça que Hitler cometeu. Ele mandou roubar todas as obras-primas dos museus da Europa a fim de que fossem colocadas no Museu dele em Berlim que estava sendo construído, a não ser aquelas de arte decadente (isso incluía as obras de Picasso, Matisse e a arte moderna, que foram queimadas sem maior cerimônia). O livro que saiu pela Rocco não encontrou o público que merecia, imagina então o filme! Onde, aliás, se enfatiza demais e com exagero, a moral: será que vale a pena colocar em risco uma vida humana para se preservar obras de arte? A resposta é obviamente sim, mas parece que até mesmo o Diretor está inseguro disso. E os jovens não estão interessados nisso.
 
Alguns desses fatos já foram contados antes pelo cinema, notadamente em O Trem (1964), de John Frankenheimer,  onde Burt Lancaster comandava a Resistência no resgate de um trem carregado de obras de arte roubadas pelos nazistas. Aliás um thriller quase clássico. E como se fosse para comprovar a veracidade disso tudo: agora em dezembro de 2013 em Paris foram descobertas no apartamento de um certo Cornelius Gurlitt, filho de marchand nazista, 1.400 peças obras-primas roubadas e ate agora totalmente escondidas!!!
 
O problema do filme era como contar numa metragem normal esse que certamente foi  o maior roubo (de arte) da História e a relutância do governo (o exército em particular) americano em formar uma equipe para resgatá-los (o filme  exagerou também nessa equipe com 8 pessoas básicas quando na realidade eles eram mais de 500!).
 
Além de ter um ritmo lento e relaxado, o filme funciona melhor em cenas isoladas do que como narrativa completa. A presença do vencedor do Oscar Jean Dujardin é muito fraca e mal resolvida (tinha potencial porque é meio comédia). Mas há algum charme nas aparições de Cate Blanchett, no seu jantar com Matt Damon fazendo o elogio a Paris, enquanto a pior sequencia é o roubo da Madonna (não a cantora) que desperdiça Hugh Boneville (o dono de Downtown Abbey), ou então ele ruim mesmo (resta a conferir). Minha cena favorita é curiosamente com o humorista Bill Murray, quando esta tomando um banho improvisado!  
 
Embora os fatos sejam interessantes e a paisagem quase toda alemã fotogênica, a trilha musical seja um compendio de influencia de outros filmes do gênero, o próprio autor do roteiro esqueceu-se de dar boas cenas para  Clooney ou Damon. Acho que a presença de um opositor, um oficial nazista - ou mesmo comunista! - pudesse também ajudar a criar maior tensão e suspense.  Do jeito que esta o filme é uma curiosidade que irá decepcionar.