Crítica sobre o filme "Conto do Destino, Um":

Rubens Ewald Filho
Conto do Destino, Um Por Rubens Ewald Filho
| Data: 20/02/2014

É difícil avaliar esta estreia na direção do premiado roteirista e produtor  Akiva  Goldsman (que ganhou Oscar® por Uma Mente Brilhante e produziu Eu, Robô, Eu Sou a Lenda, Código Da Vinci, Sr. e Sra Smith). Justamente por ter uma carreira tão bem sucedida que conseguiu que a Warner financiasse esta fantasia de gosto e sucesso duvidoso (apesar de ter dirigido antes apenas alguns episódios da série de TV Fringe). Na verdade, é o oposto parece, que foi a Warner que achou que Akiva era a pessoa certa para o projeto (ele depois justificou porque teve um grande trauma em sua vida, quando a esposa que amava e que considerava alma gêmea faleceu. Por isso se identificou com a trama do livro, que por sinal existe em edição nacional com cerca de 800 páginas).

Dizem que Martin Scorsese ia comprar os direitos do livro quando o declarou “infilmável”.  Acho que ele estava mais uma vez certo. Colin Farrell ficou com o papel central (usando seus olhos tristes e reputação de cafajeste para o papel de ladrão) depois de terem considerado os mais jovens Tom Hiddleston, Garrett Hedlyn, Aaron-Taylor Johnson, Luke Evans, Benjamin Walker e Liam Hemsworth. Hans Zimmer já tinha escrito a maior parte da trilha musical quando teve que ir socorrer Homem Aranha 2 e 12 Anos de Escravidão e o resto do score foi completado por Rupert Gregson William (de comum acordo). A companhia de efeitos Rhythm and Hues faliu no meio da produção e a Framestore completou seu trabalho. Bella Heathcote, Lily Collins, Sarah Gadon, Gabriela Wilde e Elizabeth Olsen fizeram testes, mas o papel ficou para a inglesa (e bela) Jessica Brown Findlay (que fazia a filha menor que morre em Downtown Abbey).

Agora vamos enfrentar o problema. Por mais que as pessoas sejam românticas, fica difícil encarar a história de cavalo branco voador estilo Pégaso que por algum motivo vem salvar um ladrão Peter Lake que vive em Nova York por volta de 1917. O pai tinha tuberculose e ele foi largado meio como Moisés, criado como órfão. Ele é odiado pelo chefe de polícia Pearly Soames, não se explica o porquê, que irá dedicar sua vida a persegui-lo. Esse papel é feito pelo amigo do diretor Crowe, que cada vez se confirma mais com o pior canastrão do momento. A historia é cheia desses buracos inexplicáveis – e não ajuda nada que, de repente, entra sem mais nem menos na trama o Will Smith em ponta fazendo o papel de Lúcifer, enquanto até ali tinha se fugido de religiões estabelecidas. A filosofada era em cima de que todas as pessoas tem suas vidas entrelaçadas  e que há um fio mágico que as une, através da força do universo e das estrelas (quando morremos viramos estrelas).

Se não for bem isso que dizem é culpa do roteiro extremante confuso que não tem qualquer lógica ou sentido. Na primeira parte o ladrão se aproxima de uma jovem de família rica que está morrendo e por isso sendo protegida pelo pai que tenta estender sua presença. Mas ela morrerá nos braços de Peter. Daí o filme dá um pulo de décadas e Peter reaparece com a mesma aparência, sempre com o cavalo branco fugindo do policial e agora ajudando uma menina doente (a mãe é a sempre encantadora Jennifer Connelly) de tal forma que o filme nos quer fazer acreditar em milagres! Há também uma adorável aparição da premiada Eva Marie Saint (com quase 90 anos, mas fazendo o papel de mais ou menos 130, faça as contas!).  

Milagre será mesmo se este filme fizer sucesso, porque a primeira reação da gente é tirar sarro de tanta fantasia mal alinhavada sem os ingredientes melhores do gênero (não tem canção tema marcante, não se torce pelo amor do casal e não há a menor relação entre eles e depois a menina). E olhe que era tanta besteira que eu não pisquei nem um momento! Estava tentando fazer sentido deste quebra cabeça. Mas duvido que muitos tenham essa paciência. Como previsto fracassou total na estreia americana rendendo em 4 dias, 8 milhões e cem mil dólares!