É muito frustrante se ver logo no letreiro inicial que esta não é a versão autorizada por Von Trier (que será apresentada em Berlim, no Festival, com sua metragem de 5 horas e meia), mas uma outra que ele não aprova mas não renega (!!!) e que em breve terá a parte II desta versão (alias o break tem um gancho bem interessante, embora a perspectiva de ter que assistir o filme outras vezes já por si apavora. Diz a distribuidora que a versão longa também passará aqui ). Seria a parte final da Trilogia da Depressão da qual fazem parte Anticristo (09) e Melancolia (11), ambos cm Charlotte.
Desta vez não há desculpas existenciais ou metafísicas ou políticas. É um filme sobre sexo, ou seja, o que no fundo ele sempre quis fazer (já teve um que tinha ceninhas, que eu achava horrível, que foi o Os Idiotas, 98). E pelo número de jornalistas que correram para a pré estreia, o velho e bom sexo ainda é uma fonte de atração de bilheteria. Mesmo quando a estrela do filme é a mulher mais feia do cinema e que parece ter orgulho disso. Aliás, também é tão boa atriz que por vezes faz a gente esquecer isso, Charlotte, filha de Jane Birkin e do compositor Serge Gainsbourg (saiu ao pai e não a bela mãe).
Em geral, Trier gosta de ficar interrompendo seus filmes com teorias filosóficas ou científicas (aqui fala um pouco de Bach), mas desta vez estamos focados demais no que poderia ser sensual. Porque ele joga pistas falsas (Christian Slater que faz o pai da heroína, provavelmente substituído por um dublê de corpo aparece nos domínios da escatologia, doente, com os enfermeiros limpando as fezes da cama). Será mesmo de Shia o órgão sexual mostrado em detalhe numa cena de sexo?
Não espere respostas também sobre o tema. Charlotte seria a Ninfomaníaca, Joe, já com 50 anos, que ao aparecer cansada e machucada, caindo no chão, afirma: “sou apenas um ser humano mau”. Ela é atendida por um homem mais velho (Stellan). Recusando ajuda, ela relata sua vida onde a importância é sempre o sexo. Cada filme tem quarto capítulos e o primeiro se chama The Compleat Angler, tirado do livro de Izaak Walton (sobre pescaria como analogia às conquistas). A muito magra Stacy Martin em flash backs faz o personagem jovem que perde a virgindade aos 15 anos para um inglês (Shia), mais interessado em motocicletas. Uma amiga (Sophia Kennedy Clark) a provoca para uma espécie de desafio, ao tentarem conquistar homens em trens. Ainda assim Joe diz que doeu tanto que não quer mais fazer sexo. Amor para ela seria apenas “desejo com acréscimo de ciúme”, recusa dormir com um homem mais de uma vez (e a passagem deles é ilustrada por fotos de pênis). Acontece então uma cena curta onde brilha Uma Thurman como uma mulher casada e enganada, que Nicole Kidman Iria fazer. Até Seligman, que escuta as confissões, comenta que ela conta tudo de forma negativa (vergonha, solitária) sem indicação de que o sexo a faz feliz. Não há também o mito do Don Juan feminino, o prazer da conquista, da manipulação, do jogo. Ou alegria de viver.
Não chega a ser cansativo nem tampouco revelador. Não foi mostrada a segunda parte, mas o que lemos a respeito também não revela muito. O que eu senti mais falta foi que principalmente Melancolia era um filme muito bonito, com imagens inesquecíveis. Aqui é um filme triste e feio.