Crítica sobre o filme "Jobs":

Rubens Ewald Filho
Jobs Por Rubens Ewald Filho
| Data: 07/09/2013

Existe uma lei norte-americana que reconhece a figura pública, a pessoa famosa, que depois de morta pode ser biografada por qualquer um, que pode escrever ou difundir qualquer coisa, qualquer mentira. Sem ser processada nem pela família. É uma regra discutível que permite existir filmes como este, não autorizado por ninguém e que sai antes dos mais ambiciosos (um grande estúdio estava planejando a biografia de Steve Jobs conforme sua autobiografia) furando a novidade (mas também tomando cuidado em não ofender, não entrar em terrenos polêmicos). Em geral esse tipo de filme é feito para a televisão e facilmente esquecido. Aqui, foi realizado por uma produtora independente, modesta, mas trazendo no papel central, um ator bastante famoso Ashton Kutcher, embora ninguém pense sequer achar que ele tenha fôlego ou talento para segurar um personagem desses. É até bobagem falar mal do filme já que deverá ser consumido, talvez nem nas salas, mas de outras formas, pelo público masculino, que se interessa muito pelo assunto, adora um líder sem escrúpulos que virou milionário e hoje consome muito esse tipo de projeto. E outros do gênero virão. 

A verdade é que não há maior pretensão aqui do que fazer um relato básico, do que foi a trajetória de Jobs e a Apple, mostrando seus ataques de nervos, sua falta de respeito pelos colegas, sua absurda ambição. Mas de sempre com um distanciamento como se dissesse que para dar certo na vida esse é o modelo, é assim que tem que ser, antipático e grosseiro, e sem caráter. Nada pior porém do que ele recusar assumir a paternidade da criança que teve com sua namorada. 

Naturalmente o filme começa em 2001 quando revelou seu famoso IPOD. Depois voltamos para 1971 quando ele estudava no Reed College, em Portland, experimentou LSD, foi a Índia, trabalhou na ATARI e começa a construir o computador Apple na garagem dos pais. Talvez o maior conflito seja a briga com o CEO John Scully que o leva a sair da firma (todo mundo sabe que haverá uma reviravolta e que naturalmente terminará bem, mais rico que nunca). Mas é apenas uma fitinha para ganhar dinheiro, não uma analise do caráter ou personalidade do biografado. Quase como ler uma reportagem de revista sem maior aprofundamento ou pretensão. 

Finalmente, Kutcher até que tenta, mas falha, é que ele é famoso por personagens desastrados ou pouco inteligentes. Não dá para nos convencer como Jobs. O diretor é o mesmo da sátira Promessas de um Cara de Pau. Uma conclusão: não acho que seja o caso de se ofender, ou se irritar com o filme.  Hollywood sempre fez coisas assim e nunca foi santa.