Crítica sobre o filme "Grande Hotel Budapeste":

Rubens Ewald Filho
Grande Hotel Budapeste Por Rubens Ewald Filho
| Data: 01/07/2014

Sempre tive certa relutância em achar alguma graça nos filmes do diretor americano Wes Anderson (que surgiu junto com os irmãos Luke e Owen Wilson, com Pura Adrenalina (Bottle Rock, 96) e prosseguiu com comédias esquisitas meio rarefeitas e irregulares. Como o super estimado Três é Demais (98), Os Excêntricos Tennenbaums (2001), A Vida Marinha de Steve Zissou (04). Só fui embarcar mesmo depois do road movie Viagem a Darjeeling, 07 mas ainda não tive tempo de conferir se mudei eu, ou mudaram eles. Porque dali em diante mesmo continuando a ser bizarro e original, meio infantilizado,  também ficou diferente de tudo que se faz em cinema hoje em dia.  Aleluia!

Fizeram a animação O Fantástico Sr. Raposo (09), o romântico e juvenil, Moonrise Kingdom e agora este que é sem dúvida seu maior acerto. Um risco porque fizeram uma aventura que só funciona mesmo para quem tem alguma lembrança dos livros antigos para jovens, ou mesmo os quadrinhos de Tintim. Ou seja, aventuras rocambolescas, repletas de sociedades secretas, segredos, palácios misteriosos e personagens  fora do comum (e sempre disposto a alguma traição!). O autor credita várias obras do austríaco Stefan Zweig (que para o brasileiro tem especial importância porque se refugiou aqui tentando escapar do nazismo, mas acabou por se suicidar!). Ou seja, é um mergulho num universo raramente revisitado nos últimos anos, começando pela criação de um espetacular, grandioso e antiquado Hotel, que dá o titulo ao filme.

Acho que você deve voltar a ser criança, mais garoto do que menina, para saborear as façanhas dos personagens que nunca são o que aparentam. Com uma excepcional direção de arte, o filme tem também um elenco magnífico, todos apuradíssimos (como dizem os inglês tongue in the cheek, sempre num tom de humor discreto, do riso ao deboche, mas nunca caindo na gargalhada ou desfeita!).

Quem faz o personagem central é Gustave H (Ralph Fiennes, em plena forma), um lendário concierge de um grande hotel já em decadência entre as duas Grandes Guerras , porque fica num região montanhosa, delimitado pelas montanhas e a neve. Gustave adotou não oficialmente um garoto de origem árabe que viria a ser seu sucessor mestre na arte de atender e enrolar. O script é tão criativo e cheio de meandros, que é para se ver de novo o filme e curtir seus meandros.

Jude Law é o escritor que resolve conversar com o dono do hotel (F.Murray Abraham, que voltou mesmo ao cinema) e inquirir sobre seus mistérios profundos e seu provável futuro. Incluindo também amores proibidos (Tilda Swinton faz as vezes dessa tresloucada dama),  o roubo de um quadro de fmília, traições de todos os tipos, doces exclusivos , fugas de trem sempre a beira de uma nova guerra ou conflito. E naturalmente um estilo de vida, um mundo que esta prestes a se acabar para nunca mais retornar.  Um grande e famoso elenco aparece e desaparece para dar colorido à trama, mas o problema não é esse: ou você sabe curtir o gênero ou vai ficar de fora, o que será um pena, porque desta vez o diretor sabia o que fazia. E quase ressuscita um universo já desaparecido.

Temos figurinos da mestra Milena Canonero, trilha do grande Alexander Desplat, fotografia do habitual Robert D. Yeoman. Quando o cinema ainda é capaz de fazer este pequeno, mas luxuoso e encantador bibelô, é sinal de que nem tudo esta perdido.