Crítica sobre o filme "Montanha Matterhorn, A":

Rubens Ewald Filho
Montanha Matterhorn, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 03/07/2014

Vencedor do prêmio do público em Rotterdan e no Festival de Moscou, melhor diretor estreante em San Sebastian, indicado para o prêmio de diretor novo em São Paulo (é a Mostra que distribui o filme aqui!) esta produção holandesa de diretor estreante é outra daquelas pequenas joias que felizmente o cinema ainda continua a produzir (e que alegria ainda encontrar um filme sensível, original, afetivo, quase sem diálogos e ao mesmo tempo oportuno e emocionante). Achei curioso que grande parte das criticas europeias (o filme parece ainda não circulou nos EUA, nem nos grandes centros) prefere não contar a história toda com medo talvez de afastar os espectadores mais velhos e possivelmente mais conservadores, calvinistas como o próprio protagonista.

De qualquer forma, acho que transcende mais que uma historia gay, é muito europeia, feita com trilha musical erudita e um certo respeito mesmo dos opositores. Talvez manipulativa e se pensando bem, um pouco inverossímil. Mas em geral cinema é isso mesmo. Assim se conta a história de um senhor, Fred (Kas), que vive sozinho no interior da Holanda, numa cidadezinha sentindo muito a falta da esposa e do filho. E procurando seguir os horários burocráticos, servindo o jantar para ele na hora marcada, seis da tarde. Não chega a ser comédia, mas há toques de humor na situação com Fred frequentando a igreja, brigando com o vizinho Kamps (Porgy) e tentando ajudar um sem teto (René), que não fala (melhor dizendo sempre uma mesma palavra, Ye). Parece ter sofrido uma lesão na cabeça e aceita a hospedagem na casa de Fred, que significa um abrigo (este o leva para a Igreja, também para ajudar em festinhas para criança, ou seja, tem ação na comunidade).  Ainda que curiosamente o filme tenha um aspecto de parado no tempo, sem época determinada.  Mas logo se percebe que a crise de solidão de Fred é complicada por sua atração homossexual, que não tem coragem de se revelar nem quando vai num clube gay. Matterhorn é a montanha gelada que servirá de ápice para o filme. 

Depois pensando com mais vagar, fiquei imaginando que o filme talvez tivesse mais força se não fosse com a temática gay, fosse simplesmente sobre solidão e amor, sem classificação. O que não lhe tira os méritos.