Crítica sobre o filme "Garota Exemplar":

Rubens Ewald Filho
Garota Exemplar Por Rubens Ewald Filho
| Data: 01/10/2014

Já ganhou! É a explosão que se ouviu esta semana na Imprensa Americana, depois da apresentação triunfal deste filme no Festival de Nova York. Os fãs do diretor David Fincher já contam como certo ele finalmente ganhar depois de tantos anos de rejeição (ele foi o mais famoso e premiado diretor de cinema publicitário indicado ao Oscar® por Rede Social e Benjamin Button. Mas também muito celebrado pelos outros filmes, Seven, os Sete Crimes Capitais (94), Clube da Luta (99), O Quarto do Pânico (02), Zodíaco (06), os dois primeiros capítulos da série de TV House of Cards (13). Também  fez dois filmes menores, o Alien 3, 92 e Vidas em Jogo(The Game, 97). E um tiro n´água com a versão americana do sucesso sueco, Milênio: Os Homens  Que Não Amavam as Mulheres (11).

O fato é que além de ter tido uma carreira muito consistente ele se firmou como realizador sem ter um estilo próprio, na verdade, sua marca registrada seria a precisão de detalhes, um perfeccionismo que veio crescente até esta muito badalada adaptação de um Best-seller que muita gente temia que fosse dar muito errado. Principalmente porque nos EUA todo mundo conhece o livro e sua resolução (é difícil guardar o segredo do final, aliás não seja estraga prazeres: cale a boca). Depois pela má vontade provocada pela presença de Ben Affleck como galã, mas finalmente desmentida pela consagradora primeira impressão. Ainda mais no que parece se confirmar como este é num ano muito fraco, seu novo filme é um triunfo. Há muito tempo não vejo a imprensa sair tão impressionada e feliz quando desta vez (foi a própria autora do livro quem fez a adaptação muito feliz, Gilliam Flynn).

Outro grande acerto da realização é a escolha precisa do elenco, com poucos nomes consagrados, mas até mesmo a duvidosíssima figura do astro negro que costuma fazer travesti Tyler Perry (perfeito como o advogado de defesa) e o outro nome conhecido Neil Patrick Harris (como ex-namorado dela, com pouco tempo em cena). Quem impressiona e pode pegar indicações de coadjuvante é a incrível Carrie Coon (que é estreante em cinema, veio da encenação de Virginia Woolf da Broadway).  Ou Kim Dickens como a policial encarregada do caso.

Fazia tempo em que eu estava de olho na atriz inglesa Rosamund Pike que tinha certeza que era diferente e seria descoberta. Acho que a primeira vez foi em 2009 com Substitutos com Bruce Willis, seguido por Orgulho e Preconceito (namorou o diretor Wright), mas certamente não em seu primeiro filme de cinema, que foi logo o James Bond, aquele da neve, Um Novo Dia para Morrer, com Pierce Brosnan em 2002, onde foi Miranda Frost!  Depois entre outros gostei dela com Tom Cruise, em Jack Reacher, o Ultimo Tiro (12).

Loira delicada, Rosamund é discreta, contida, capaz de mudar de aparência durante o próprio filme. Ela faz Ammy Dunne, novaiorquina brilhante, autor de livros infantis, que se apaixona e se casa com um cara comum do Missouri Nick Dunne, visivelmente sem grandes talentos. Mas ainda assim sedutor (isso quer dizer infiel!) e sem escrúpulos.

O filme começa já com o casal em crise, compartilhando a narrativa cada um logicamente com sua verdade. O básico: o casamento vai mal, a grande crise está prestes a acontecer. Já na primeira cena Nick acorda para por o lixo na porta quando nota que há algo errado na casa, um móvel de vidro quebrado, sinal de Ammy não esta por ali. Pode ter sido sequestrada, saído para um passeio longo, abandonado o marido. Ou simplesmente assassinada. Daí em diante o espectador será confrontado com um jogo de quebra cabeças, excitante (não esqueça de ir ao toalete antes) cheia de reviravoltas, e uhns e ahns, que terão uma conclusão satisfatória. Fico aqui poupando adjetivos para não estragar o prazer do que é certamente o grande thriller do ano.  Sua única dificuldade é chegar ao ápice agora quando ainda faltam meses para a premiação.