Crítica sobre o filme "Candidato Honesto, O":

Rubens Ewald Filho
Candidato Honesto, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 02/10/2014

Nunca vi um filme Brasileiro como este. Nem mesmo estrangeiros, ou italianos que até agora eram imbatíveis em criticar sua vida política. Não sei como o público brasileiro vai reagir a um filme tão deliberadamente acusador, praticamente sem disfarce, jogando na cara de todos a corrupção política que grassa o país. E que todo mundo ate agora mais ou menos tentava disfarçar. Dou um exemplo: nas entrevistas ninguém acusa todos os políticos como corruptos. Aqui se diz, “Se por acaso existir algum honesto”!!!

Foi preciso muita coragem para dar a cara para bater e lançar um filme como este em plena véspera de eleições (muitas vezes citando alguns políticos por nome, mas em geral evitam processos ate mesmo porque essa é a forma de não serem todos vitimas de processos: mantendo o filme como uma chanchada, uma farsa total, com momentos onde isso surge mesmo de forma grosseira e desnecessária (piadinhas grossas como a mulher do herói ou então uma sequência muito ruim onde sequestram um ônibus e junto vai uma velha rolando de lá para cá, na verdade um cara disfarçado de velha! Lamentável momento que nada ajuda o filme que naturalmente se segura na figura de Leandro Hassum, que tem sido o mais popular (também nas bilheterias) ator do momento, de que ninguém duvida o talento (inclusive na sequencia final inevitável quando ele faz um discurso a sério e convence!).

Eu confesso que carrego ainda um trauma do tempo da ditadura quando ia ver uma peça de teatro e ficava na angustia de que podia ser interrompida e irmos todos para a tortura. Também vendo o filme fiquei ansioso pensando se o brasileiro esta capacitado para tanta liberdade (já veio gente reclamar para mim, que o filme tem palavrões. Alô. Gente teimosa, qual o problema com palavrão? Ainda mais dentro do contexto? Afinal não é um convento! Assim como outra reclamação que se aceita a torto e a direito no cinema estrangeiro, mas que aqui não acham aceitável. Usar uma ideia de outros filmes (já um velho recurso dramático) que muitos se lembram com O Mentiroso (Liar, Liar, 97), onde Jim Carrey era vitima de uma mandinga que o impedia de mentir durante uma período de tempo . Aqui é essa situação básica que faz com que ele diga sempre a verdade, mesma na TV, no Congresso e assim por diante.

Já sabemos então qual o maior defeito do filme, que é não ter confiança na própria história e de vez em quando escorregar para a chanchada desnecessária. Mas ri muito e fiquei um pouco chocado vendo tantas verdades (e exagero claro, comédia é feita disso) que desde Tropa de Elite 2 não surgiam  em nossas telas.  Mesmo aqueles que habitualmente não acompanham o gênero, sugiro que vão conferir. E quem sabe se tome um pouco de vergonha na cara.