Crítica sobre o filme "Cantinflas":

Rubens Ewald Filho
Cantinflas Por Rubens Ewald Filho
| Data: 22/10/2014

Será que teria sucesso no Brasil uma biografia feita hoje em dia de nosso maior humorista dos anos cinquenta, no caso Oscarito? É provável que não, já que o público tem memória curta. Ainda assim feitas as comparações, o mexicano Cantinflas/ Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes (1911-1993) foi muito mais conhecido porque  embora sediado no México, suas comédias foram exibidas em todo o continente (algumas pela Pel-Mex, outras pela Columbia, quase todos com imenso sucesso e para qualquer classe social. Foram 51 filmes de 37 a 82, o último O Varredor  foi o único a sair aqui em Home Video). Além disso teve a sorte de ser celebrado em sua terra natal, também como toureiro e  descoberto por Hollywood para duas super produções americanas, A Volta ao Mundo em 80 Dias, do diretor Michael Anderson e produtor Mike Todd, inspirado em Jules Verne e que ganhou em 1957, os de melhor filme, direção, roteiro, fotografia, montagem, tendo sido indicado para figurino e direção de arte. Cantinflas não foi indicado ao Oscar® como parece no filme, a entrega daquele prêmio era o Globo de Ouro que formado por estrangeiro assim conheciam mais o ator. O êxito do filme fez com quem rodasse ainda mais um filme americano, Pepe  (1960), onde ele fazia o mexicano Pepe, que cuidava de cavalos e ia para Hollywood onde esbarrara em todo o elenco da Columbia (de Kim Novak, a Debbie Reynolds, Shirley Jones). Mas era excessivamente longo e não sabia aproveitar o astro. E Pepe foi nominado o melhor ator e filme no Oscar®, mas não venceu.

Praticamente todos os filmes de Cantinflas foram dirigidos pelo mesmo realizador Antonio del Amo |(1911-91). Então há bastante lógica que esta biografia tenha sido dirigida pelo filho dele, Sebastian Del Amo, apenas em seu segundo trabalho, tendo tido êxito com o primeiro (The Fantastic World of Juan Orol, biografia de um diretor de filmes B meio involuntariamente surrealista!).

Mas ele escapou pela fantasia, encontrou um ator parecido com ele (ainda que mais alto e mais magro) que imita seu jeito de falar, mas  sem a mesma simpatia ou comunicação. Até na calça caída atrás que era sua marca registrada o filme falha. Ele é um espanhol de Barcelona, que tem carreira longa em filmes como Navegando em Águas Perigosas, Fuga Implacável com Bruce Willis, Che 2, Camaron (que lhe deu o Goya), Trash, que lhe deu o Gaudi.

Mas eu que assisti praticamente tudo que Cantinflas fez e me diverti muito, também porque sempre achei que ele era o México, o homem médio, falante, enrolador, simpático, sem grana, mas inteligente e esperto para conseguir sobreviver e ser feliz. Para não esquecer seu bigodinho característico. Ou o trapo que dependurava no ombro. Nada disso é valorizado no filme, que coloca genéricos interpretando as estrelas mexicanas da época (tudo rapidinho), tem uma cena com La Taylor (sai muda e entra calada)  já que Mike Todd seria seu futuro marido e conviveu muito com o astro (depois ele morreria num desastre de aviação sem ter tempo de fazer outro filme). Foi muito criticado também porque seu tipo tão forte – apelidado de Peladito, foi deixado de lado assim como a amizade que tinha com presidentes e políticos importantes! Rendeu nos EUA 6 milhões e pouco de dólares.

Superficial mas bonitinho, chega mesmo a ser inferior aos similares americanos de 60 anos atrás. Mesmo assim representa oficialmente o México no Oscar® agora.