Premiado com o Lumiére demelhor filme e o César de Fotografia, este é o novo filme do mais pessoal, criativo e inventivo cineasta do cinema Francês Jeunet. Desde há muitos anos quando fez parceria com Marc Caro e Delicatessen (91) (aliás seu ator preferido desde aquele filme, Dominique Pinon, faz aqui aparição como o vagabundo que o herói encontra durante a viagem de trem). O fato é que Jeunet é dos poucos realizadores que criou um mundo particular, original, que parece muita coisa e com nada em particular, a não ser um universo dele. Mas não se prendeu demasiado a seu princípio, com o Fabuloso Destino de Amélie (2001), partiu para um delicioso e definitivo cartão postal de Paris (e tornou Audrey Tautou estrela), sem esquecer a edição rápida, a nostalgia, o romance. Depois do médio MicMacs - Um plano Complicado (09, que poucas memórias me deixou) e do romântico Eterno Amor (novamente com Tautou e pela primeira vez como Marion Cotillard), ele faz este filme belíssimo em 3D, que é diferente desde os letreiros (é inspirado num livro infantil de Reif Larsen, que é um pop book, ou seja, quando as paginas se abrem ganham vida, recortadas, como se fosse 3D).
Não se deve, porém esperar um novo Amélie, o tom é outro e a história completamente diferente. O herói Spivet agora é um menino americano que vive com os pais num rancho meio arruinado, no estado de Montana. Ele é o narrador da história, um menino perto da genialidade, cientista de talento próprio, cartógrafo que tem que suportar a irmã adolescente que deseja ser Miss ou atriz, um irmão gêmeo (que morre atingido por tiro, num caso misterioso que ninguém na família aborda e de quem ele sente muita falta). A mãe é cientista que estuda insetos e mal troca palavras com o sisudo marido cowboy (mas é possível que mesmo assim eles se amem).
O filme começa com Spivet furando uma aula de universidade onde comenta sobre o moto perpétuo e ele fica fascinado pelo assunto. Sem que ninguém saiba faz cálculos e seu projeto chega até o célebre Instituto Smithsonian de Washington que lhe comunica que ganhou um premio especial (sempre pensando que se trata de um adulto). Enchendo-se de coragem, ele faz sua mala e parte escondido num trem, como se fossem os anos difíceis da Depressão (até sendo perseguido por guardas). As paisagens e a maneira de fotografa-las não poderia ser mais folhinha no melhor sentido da imagem. De dar vontade de ver de novo.
O problema com o filme é justamente esse. É um pouco antiquado para os garotos atuais, perdidos em outras tecnologias e prazeres mais imediatos. Então o filme vai ficar condenado à terceira idade e os fãs do diretor. Mas que esses não percam o resultado. É verdade que na sequência do Museu o diretor não conseguiu segurar Judy Davis, que partiu para a caricatura total (ainda que divertida) enquanto justamente a que tem a mania do exagero, Helena Bonham Carter, não podia estar mais em controle.
De qualquer forma, é um filme contracorrente, belo e encantador, que consegui me encantar.