Crítica sobre o filme "Interestelar":

Rubens Ewald Filho
Interestelar Por Rubens Ewald Filho
| Data: 04/11/2014

Preste atenção no texto de um crítico quando o jornalista não gostou muito do filme mas é fã do diretor, consciente que este precisa de um sucesso de bilheteria (porque se não sua carreira até então tão bem sucedida, pode levar a breca). Por mais que queria esconder que não gostou ou não entendeu ou não curtiu o filme. Está fazendo um esforço super humano (vejam bem, o esforço é sincero, não há nada de vendido ou corrompido nisso. Ele escreve com o coração, como se falasse de uma ex-namorada que muito admira e a quem não pode abandonar neste momento difícil. Críticos acreditem também são fãs). Então ele inventa, enrola, faz literatura, não põe o dedo na ferida. E o pior é que isso não adianta, ninguém ou poucos dão bola para o que o critico diz e a Internet virou terra de ninguém.  O espectador ocasional é que decretará a sentença. Preguiçoso como ele costuma ser.

Essas elucubrações vêm a tona a respeito do tão esperado filme Interstellar, que antes da estreia já se comenta terá dificuldade para ser indicado aos Oscars, a não ser os prêmios técnicos. Para piorar, a reputação de Nolan (o gênio da trilogia Batman O Cavaleiro das Trevas, do inesperado A Origem) ficou abalada há pouco quando produziu o fracasso Transcendence: A Revolução, que empurrou para seu fotografo Pfister assinar. Neste caso curiosamente o projeto ia ser feito por Spielberg em 2006 que o largou, mas sugeriu o irmão Jonathan para assumi-lo. Que por sua vez o repassou para Christopher Nolan.

Uma pena, mas a primeira vista Interstellar  não é tudo o que se esperava, até menos do que propaga. Não me parece nunca uma boa ideia competir  nem de longe com 2001, uma Odisséia no Espaço de Kubrick (não apenas em alguns momentos de computador mas emulando a sequência onde eles mudavam de dimensão). Há alguma coisa no roteiro que deixou o filme desconjuntado. Não se consegue se gostar de nenhum dos personagens que são mal delineados (como um filho rebelde ou antipático, não se entende). A história simplesmente não é bem contada. A tal ponto que o último trailer em cartaz é bem didático, explicando direitinho o que filme custa a definir. É verdade que tem planos esplêndidos (desta vez não em 3D, mas sim em IMAX) principalmente de paisagens geladas. Mas Anne Hathaway, por exemplo, parece o tempo todo desconfortável em estar ali, sem ter o que fazer. E um Matt Damon surge já no final sem crédito, como se isso ajudasse muita coisa.

A história, a gente custa a entender, é sobre o fim da Terra (o apocalipse é evitado talvez por já ter sido mostrado demais ) e um veterano astronauta Cooper (Matthew) fica animado quando descobriram um “buraco de minhoca” que seria o nome de uma passagem meio buraco negro  que poderia ajudar a superar os obstáculos das viagens humanas no espaço e assim conquistar as vastas distâncias de uma viagem interestelar. Uhn, uhn. A trama seria essa, mas é por demais complicada (ainda assim eu gosto já no final quando Cooper procura a ajuda da filha em meio a biblioteca, não sei se faz sentido mas ao menos visualmente é bonita).

Mas tirem o cavalo da chuva: não é Star Wars, não tem guerras, tiroteios, monstros espaciais. Também não é bem historia de amor e até não parece especialmente simpática a essa sobrevivência do homem em lugar tão distante e inóspito.

Sempre acho que dinheiro demais, liberdade demais, não é uma coisa boa para um cineasta/artista que muitas vezes perde sua diretriz e metas. E o pior é que vem num momento ruim para a produtora Warner, justamente quando ela esta tendo crise financeira, despedindo funcionários e decidindo o futuro. Mr Nolan, não duvido nada, é capaz de dançar nessa também. Nessas horas Hollywood não tem perdão. Errar uma vez pode, duas vezes em casos especiais, três nunca.