Crítica sobre o filme "No Limite do Amanhã":

Jorge Saldanha
No Limite do Amanhã Por Jorge Saldanha
| Data: 08/01/2015

De início fiquei com um pé atrás em relação a NO LIMITE DO AMANHÃ, por trazer na direção um estranho ao gênero  (Doug Liman, um dos produtores e diretores da franquia BOURNE) e, principalmente, possuir uma trama que, pela enésima vez, envolve invasores alienígenas. Adicionalmente, emprega o recurso já meio saturado do loop temporal, levado ao cinema em filmes como FEITIÇO DO TEMPO (1993) e CONTRA O TEMPO (2011) - sem esquecer o que parece ser o início de tudo: o episódio "Causa e Efeito" da série JORNADA NAS ESTRELAS: A NOVA GERAÇÃO.

Pois bem, fui ao cinema sem grandes expectativas e novamente constatei que, muitas vezes, o que importa não é o emprego de elementos de história pra lá de manjados, mas sim o modo como isso é feito. Baseado em um mangá conhecido internacionalmente como All You Need Is Kill, Christopher McQuarrie escreveu um roteiro polido, inesperadamente sarcástico e engraçado. Tom Cruise (em mais uma investida bem sucedida na ficção científica) não interpreta um herói tradicional, muito antes pelo contrário: é um covarde relações-públicas do exército, enviado contra a sua vontade para a linha de frente e, devido ao seu despreparo, à morte certa.

E de fato morre, mas devido à contaminação pelo DNA alienígena a cada morte ele volta um dia no tempo, e isso lhe dá a oportunidade de progressivamente evoluir como soldado, ganhar experiência com a situação e superar as inicialmente intransponíveis fases do combate aos invasores, contando quase sempre com a ajuda da personagem de Emily Blunt. Quem joga (ou já jogou) videogames certamente irá se identificar com a situação. Um dos acertos do filme é não retratar tudo isso com demasiada seriedade: muitas vezes, apesar das tentativas de Cage, ele acaba morrendo em situações risíveis, às vezes pelas próprias mãos de Rita (Blunt). Em sua parte final a trama ganha um tom mais sério, padrão dos filmes do gênero, e o final parece ser uma concessão para agradar a gregos e troianos.

Apesar disso, com efeitos visuais de grande realismo, excelente fotografia, direção precisa, um argumento afiado e um casal de protagonistas cativante, NO LIMITE DO AMANHÃ foi uma das boas surpresas do cinemão norte-americano de 2014, e portanto merece uma segunda chance em home video. Lamentáveis tempos em que uma reluzente bomba como TRANSFORMERS - A ERA DA EXTINÇÃO torna-se o filme de maior bilheteria mundial no ano que recém se encerrou, enquanto este raro exemplar de blockbuster sci-fi que comprova ainda haver vida inteligente em Hollywood, mal consegue se pagar.