Crítica sobre o filme "Êxodo: Deuses e Reis":

Rubens Ewald Filho
Êxodo: Deuses e Reis Por Rubens Ewald Filho
| Data: 23/12/2014

Em 1956 fez grande sucesso e teve enorme repercussão o filme Os Dez Mandamentos, de Cecil B. De Mille, que contava justamente essa mesma histÓria. Ainda que rodado em Hollywood, com um elenco bem americano, ele ficou inesquecível por causa de uma sequência de efeitos especiais que mostrava a passagem pelo Mar Vermelho dos judeus em fuga (essa cena hoje em dia envelheceu demais e ficou meio ridícula). Embora esse o filme seja muito divertido seguia a linha do diretor de mostrar mulheres bonitas e seminuas (e também uma sequência de orgia aonde adoravam o Bezerro de Ouro, que resolveram eliminar aqui). Talvez porque o filme já estivesse ficando muito longo, não mostram os 40 anos em que eles vagam pelo deserto por castigo de Jeová. O próprio Deus aparece na figura muito discutível de um menino. Não chega a ser ruim, mas fica difícil de acreditar, até porque no filme original (recomendo vocês que deem uma olhada, é cafona mas um espetáculo grandioso em que a melhor coisa é o jovem Charlton Heston sendo um tremendo Moisés. Yul Brynner, o primeiro careca do cinema moderno, também é um poseur como o faraó egípcio).  Houve em 98 a versão em animação do tema, quase semelhante chamado O Príncipe do Egito.

Enfim, este novo Êxodo tem erros e acertos. O diretor Ridley  Scott já não é mais o mesmo dos tempos de Alien (sua musa Sigourney Weaver faz um ponta quase irreconhecível), Thelma e Louise e Blade Runner. Talvez porque sinta a ausência de seu irmão também diretor Tony Scott, a quem o filme é dedicado (ele se matou em agosto de 2012).

Enquanto Christian Bale convence bem como Moisés, devidamente sofredor e heroico, o mesmo não se pode dizer de seu irmão de adoção, o filho do faraó Ramsés. Não apenas o ator australiano Joel Edgerton é discutível, mas como sua maquiagem beira o ridículo. Não há muitas surpresas na historia, a não ser a presença de egípcios efeminados (as mulheres do filme são poucas, exóticas e mal utilizadas). A primeira parte mostrando os dois ainda amigos é rotineira, mas o filme melhora quando chegam as pragas bíblicas (há uma sequência que não estaria no livro, a dos crocodilos do Nilo) que tem a missão de convencer o faraó o libertar os judeus que eram escravos há muitos anos. Eu gosto muito da sequência da caminhada até a  Terra Prometida, principalmente as cenas quando as tropas egípcias vão em sua perseguição e sofrem baixas. A historia do Mar Vermelho procura seguir os estudos recentes que dizem que naquele lugar há movimento das águas que permitira a passagem daqueles em fuga. Ainda assim é convincente mesmo que o final seja precipitado. 

O filme teria custado 140 milhões, foi rodado em sua maior parte na Espanha e até agora não rendeu muito mais do que 40 milhões de dólares (mas mal estreou). Certamente deverá atrair um público religioso e na verdade me parece bem mais verossímil do que o recente Noé.