Crítica sobre o filme "Cinderela":

Rubens Ewald Filho
Cinderela Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/03/2015

Já estreando com bilheteria local de 70 milhões de dólares e 132 milhões globais, este novo Cinderela  com atores demonstra que a Disney estava certa em investir em sua mitologia de princesas, até então em desenho animado, mas que abriram o precedente ano passado com Malévola (que rendeu 758 milhões mas tinha a atração extra de Angelina Jolie). Aqui o elenco é quase todo desconhecido (com a agora habitual aproveitamento dos jovens da série de TV Game of Thrones), mas muito eficiente com uma aparição esperadamente magnífica de Cate Blanchett, como a madrasta má, que não só tem algumas justificativas (dois casamentos fracassados que a deixaram viúva e pobre, além de duas filhas burras). Mas é intrigante e ambiciosa sem nunca cair na caricatura ou exagero. Os maiores elogios porém vão para a direção de arte, que é do fenomenal Dante Ferretti, sem dúvida o maior do mundo entre os vivos, veteranos do filmes de Scorsese, Fellini, Pasolini. Ele torna todo o filme muito bonito, mas é a figurinista super premiada Sandy Powell (3 Oscars, o mais recente por Hugo) que brilha mais nos vestidos obrigatoriamente exagerados mas também vestindo a madrasta Cate como se fosse uma estrela de Hollywood nos anos 40, technicolor, com cabelos ruivos e cores quentes. Sua entrada em cena irá se tornar clássica.

Deve ser este o melhor trabalho na direção de um filme comercial do shakespereano Kenneth Branagh (Thor, o injustiçado Operação Sombra Jack Ryan) que teve que enfrentar a concorrência de haver muitos outros filmes de Cinderela com atores (da minha infância veio o Sapatinhos de Cristal com Leslie Caron, Anna Kendrick recente agora em Caminhos da Floresta, Jerry Lewis em Cinderelo sem Sapato, Para Sempre Cinderela com Drew Barrymore, Cinderella de Rodgers e Hammerstein (vista apenas na TV americana com Lesley Ann Warren e em versão anterior Julie Andrews) e até Mary Pickford em 1914, num total de 208 filmes ou programas de TV com ela.

Não chega, porém a ser perfeita por algumas escolhas: talvez seja longo demais para crianças pequenas terem paciência, não há canções o para meu gosto, faz falta, ainda que no ponto chave, que a heroína entoe uma melodia discreta. Apesar do uso da magia ser discreto, conseguiram porém dois milagres com Helena Bonham Carter (que já foi antes mulher do diretor Branagh), que chega a estar bonita e não mergulha na caricatura e exagero dos tempos do ex-Tim Burton.

Na verdade, a coisa mais fraca de todas é justamente um complemento de programa, o novo animação que a Disney fez as pressas para acompanhar o longa, o Frozen Fever /Febre Congelante, de Chris Buck e Jennifer Lee, que mesmo trazendo o elenco original (Idina Menzel, Kristen Bell, Jonathan Groff) é uma história fraca e sem graça, em que Elsa tenta comemorar o aniversario da irmã Anna mas um resfriado vem impedir isso. Existe apenas uma canção muito fraquinha que ocupa quase todos 7 minutos de projeção, Making Today a Perfect Day, dos mesmos originais, Robert Lopez e Kristen Anderson Lopez. Ou seja, nada é perfeito mesmo.