Crítica sobre o filme "Ricki and the Flash: De Volta Para Casa":

Rubens Ewald Filho
Ricki and the Flash: De Volta Para Casa Por Rubens Ewald Filho
| Data: 02/09/2015

Já é lugar comum se elogiar Meryl Streep  e afirmar que qualquer filme com ela vale a pena. Sua presença eclética (nunca se repete) e brilhante, é a única razão de se assistir esta comédia romântica que vai beber em diversas e antigas fontes do cinema (o que me lembrou foi de cara o Stella Dallas, clássico romântico com casal separado e filha que despreza a mãe). Mas a razão do roteiro ser tão fraco e não saber desenvolver direito os personagens (como o ex-marido feito pelo exemplar Kevin Kline) é que foi escrito pelo blefe Diablo Cody, que ganhou um Oscar de roteiro por Juno, 07 e depois só errou sucessivamente em Jovens Adultos, 11, Garota Infernal (que também dirigiu, que ela mesmo reconhece foi um erro, 09). Quanto a Meryl, o filme tem uma razão especial para ela estrelar aqui : é que traz como sua própria filha, sua herdeira Mammie Gummer, que é uma Meryl Feia e sem brilho (não má atriz, apenas sem vida). Ou seja, por ela, aproveitou a chance de também voltar a cantar no cinema, coisa que já fez vparias vezes (ultimamente em Os Caminhos da Floresta) só que desta vez como roqueira, demonstrando uma nova faceta de sua versatilidade.

Curiosamente o filme não foi bem nos EUA, para um orçamento modesto de 18  milhões até agora não rendeu mais de 23. O que também é pouco se considerarmos que o trabalho é assinado por Jonathan Demme, que já foi dos grandes do cinema. Volto a minha velha teoria de que os cineastas não duram mais do que 10,15 anos de apogeu e passam a decair (Bergman foi exceção mas prevendo isso se aposentou antes, Fellini também falhou em seus últimos filmes, Spielberg virou mais produtor) . No seu auge Demme fez o magnífico O Silencio dos Inocentes (que lhe deu o Oscar), Filadélfia,  antes disso os cults De Caso com a Máfia e Totalmente Selvagem e alguns musicais (ele aproveita inclusive músicos do filme Stop Making Sense para fazerem parte da banda aqui, além de empregar vários parentes!).

Embora o filme seja agradável e mesmo divertido, Demme não lhe acrescentou muito, deixando tudo nas costas de Meryl, tornando tudo o mais secundário. Ela faz uma mulher casada com três filhos que larga a família (isso nunca é mostrado) para se tornar roqueira e gravar disco. Agora vive com dificuldade tocando em barzinhos da Califórnia, embora tenha a sorte de ter encontrado um músico mais jovem que a ama (a volta de outro roqueiro Rick Springfield, australiano que em 1984 estrelou Um Homem Impossível de Amar e depois fez muita televisão inclusive o recente True Detective. Muito maquiado  funciona como mero adereço romântico.

Tudo muda quando o ex-marido telefonou dizendo que a única filha (justamente Mammie) tentou se  matar quando o marido a deixou por outra! Ricki aceita o chamado e vem visitar a mansão da família embora seja mal recebida pelos filhos (um deles, gay a acusa de homofóbica!, o outro o Sebastian Shaw, que fez o papel do Soldado Invernal, está prestes a se casar). A presença da mãe ate ajuda mas quem retorna é a atual esposa que na verdade os criou e é interpretada  pela grande estrela da Broadway, recordista de Tonys, Audra MacDonald, que tem praticamente apenas um longo texto a dizer (mas a escolha dela para o papel soa falsa e demagógica). Enfim, SPOILER , nada explica o final precipitado no pior estilo americano tudo se resolve como num passe de mágica e todos vivem felizes. O que esperavam de Hollywood, realismo?  Já basta termos o tesouro Streep  ainda estrelando filmes aos  63 anos.