Crítica sobre o filme "Mad Max: Estrada da Fúria":

Jorge Saldanha
Mad Max: Estrada da Fúria Por Jorge Saldanha
| Data: 15/09/2015

Oh, que dia… que adorável dia! (Nux)
Em 1981 foram lançados dois filmes que redefiniram o Cinema de ação: o norte-americano CAÇADORES DA ARCA PERDIDA, de Steven Spielberg, e o australiano MAD MAX 2, de George Miller, hoje ambos pertencentes a cultuadas franquias cinematográficas. Porém, ao contrário do que posteriormente aconteceu com a quarta e esquecível aventura do arqueólogo aventureiro Indiana Jones, este quarto filme do herói Max (agora com Tom Hardy no icônico papel que foi de Mel Gibson) consagrou-se junto a público e crítica e tornou-se também uma referência no gênero.

Depois do morno MAD MAX – ALÉM DA CÚPULA DO TROVÃO (1985), ninguém parecia acreditar que algum dia Max Rockatansky retornaria às telas, e em grande estilo, para combater warlords motorizados pós-apocalípticos e defender (sempre, de início, relutantemente) inocentes em desertos aparentemente intermináveis. Ninguém – exceto o criador de Max, o hoje septuagenário George Miller. E em MAD MAX – ESTRADA DA FÚRIA (2015), ele desafiou com vigor juvenil todos os riscos, enfrentou desafios logísticos gigantescos (como o de ter de transferir as filmagens do seu local habitual, o outback australiano, para o deserto da Namíbia, na África), orquestrou na tela inacreditáveis façanhas de dublês (mantendo o uso dos efeitos CGI sempre como fator acessório e de suporte, assumindo proeminência apenas na sequência da tempestade de areia) e, essencialmente, elevou à perfeição a estética e o padrão que fizeram história no longa de 1981.

A trama é simples, e serve principalmente como base para a construção de uma série de perseguições memoráveis e eletrizantes. Porém, mesmo dentro da simplicidade do argumento, Miller consegue estabelecer de forma eficiente os personagens e motivações, especialmente a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron, roubando a cena de Hardy). Além disso, o diretor e co-roteirista adiciona um elemento catalizador inédito para os conflitos: o tirânico Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne, que foi o vilão Toecutter no filme inicial de 1979), não persegue Max e Furiosa para manter seu monopólio de combustível ou de água, mas sim porque lhe foi roubado algo muito mais precioso – sua herança genética, representada pelas jovens “parideiras”. Isso dá um viés original à trama, e ao mesmo tempo propicia uma interessante, ainda que nada profunda, discussão sobre a condição feminina em tempos de barbárie.

Não interessa se MAD MAX – ESTRADA DA FÚRIA é uma continuação, um reboot ou uma reinvenção da trilogia original de Max, ou ainda o porquê de Mel Gibson ter ficado de fora do projeto. Ele é admirável por representar uma proposta simples e honesta que originou um filme estupendo. Sim, é um mero filme de ação, mas sem dúvida um dos melhores, em sua forma bruta, já vistos em muitos anos. E isto, numa época em que o gênero fatura bilhões ao redor do mundo com os VELOZES E FURIOSOS e TRANSFORMERS da vida, que não tem pudores em insultar a inteligência do espectador, já diz tudo.