O filme anterior Skyfall (12) era um pouco mais curto (142 min) e muito mais bem sucedido, tendo sido o primeiro da série a render mais de um bilhão de dólares em todo o mundo (exatamente 1 bilhão e 108 milhões). Como é costume nesses casos, esta nova aventura que repete basicamente o elenco e o diretor, já esta sendo criticada porque é menos surpreendente (e também lembra incomodamente os episódios recentes de Missão Impossível), não tem as tradicionais Bond Girls (Monica Bellucci tem apenas uma ponta e a francesa Lea Seydoux, do filme erótico Azul é a Cor mais Quente e também de outro Missão Impossível, Protocolo Fantasma, é sem graça, mantém uma única expressão e não convence como o interesse romântico !). Há uma falta de mais e melhor humor e principalmente de um vilão mais divertido e cínico como o Silva de Javier Bardem. Todo mundo se leva a serio demais inclusive o protagonista Daniel Craig, que parece sempre tenso e mal humorado, como se preferisse estar em outro lugar. E nunca sua frieza em matar e sua invencibilidade (ah, e também o merchandising de automóveis e relógios ) ficaram tão evidentes. Engraçado como os Bonds anteriores de Connery a Pierce Brosnan, sempre tiveram um charme e elegância que nos fazia perdoar seu sangue frio. Isso não acontece com Craig. E tem mais, a trilha musical que no filme anterior parecia intensa agora ficou apenas barulhenta (ainda assim a música tema estourou na Inglaterra assim como o filme!).
Não vou cometer a heresia de dizer que o filme é ruim, nem tanto. Acho que Mendes errou em retomar o projeto (deve ter levado uma enorme soma como salário) e não dar melhor texto para os protagonistas (Ralph Fiennes que assumiu o personagem de M, é o primeiro deles a ter uma participação ativa na ação da trama, mas é outro que parece aborrecido e chateado). Teve gente que sentiu falta de um vilão mais forte, já que Christoph Waltz é um ator que só funciona mesmo quando Tarantino está no comando (o que já lhe valeu dois Oscars de coadjuvantes). Todo o roteiro faz um esforço para ressuscitar a antiga organização chamada Spectre que estava em ação nos primeiros filmes (há até a intenção de afirmar que outros vilões de filmes anteriores, visto em fotos, já pertenciam a ela) e mostrar mesmo uma filiação de Waltz (Oberhauser) como outro vilão clássico. Mas é particularmente frágil a figura do outro bandido da historia, o chamado C que é feito fragilmente por um ator irlandês chamado Andrew Scott (que já esteve melhor como Moriarty na série de TV do Sherlock Holmes!). Resta Q que também entra na dança assim como a Moneypenny, mas ainda assim sem nada de consequente.
Acho que a melhor coisa do filme certamente é um tour de force com um sequência prólogo rodada espetacularmente nas praças principais de Cidade do México durante um grande desfile de Dias dos Mortos (onde tradicionalmente se vestem de caveiras). É um enorme plano sequência, muito bem filmado e que culmina com uma perseguição a pé do vilão e Bond, que continuam brigando a bordo de um helicóptero. Quem tiver olhos atentos, conseguirá perceber que não há efeitos digitais, mas fica visível que em certos momentos Craig está substituído por um dublê e, pior que isso, na complicada luta há alguns planos onde eles usam a famigerada back projection (projeção de fundo), coisa de filmes dos anos cinquenta para trás.
O mais curioso é que apesar de tanta restrição Spectre tem ação solida, orçamento generoso, belas locações exóticas (Áustria com neve, Marrocos com deserto, Roma, Cidade do México, e naturalmente Londres). Só não é um grande momento de James Bond.