Foi neste pacote de faroestes que descobri dois filmes que tinha deixado escapar (eram de 1949 e 50, ou seja não tinha idade para assistir e até hoje tenho a compulsão de tentar ver justamente essas raridades de outra época). No caso foram duas boas surpresas, ambos ainda em preto e branco, o que explica porque nunca circularam nem na nossa TV: Golpe de Misericórdia (Colorado Territory , 49) da Warner, é outra demonstração de como Raoul Walsh era um grande diretor pouco reconhecido. A inexpressividade de Joel McCrea, um dos mais famosos heróis de westerns Classe A (na verdade é justamente sua cara de nada, portanto confiável, que é a chave de seu sucesso!). Desta vez faz um bandido que sai da cadeia e quase se regenera quando encontra uma loira fatal (embora não convença como mestiça de índio, a loira Virginia Mayo, está no esplendor da beleza e sensualidade!). Dizem que é refilmagem de outro clássico dele, Seu Último Refúgio (High Sierra com Bogart), mas a semelhança é muito vaga e esnobe. Quase todo feito em locações, a Estrada de Ferro de Durango, no Colorado, mas também rodando cenas em Sedona , Arizona, Gallup, Novo México e também no rancho do estúdio em Calabasas, California. Aproveito aqui para fazer o mea culpa e concordar com Inácio Araujo, que sempre achou Walsh um mestre.
O outro filme não é propriamente um faroeste, mas um drama de época da MGM, O Testamento de Deus (Stars in my Crown, 50), de outro excelente diretor pouco reconhecido Jacques Tourneur (Sangue de Pantera), que faz um ode religiosa na figura de um pastor (McCrea, agora de bonzinho) que se torna modelo de vida numa cidadezinha do Oeste logo depois da Guerra Civil. Dean Stockwell faz o filho pequeno, a bela e esquecida Ellen Drew a mulher e a sequencia mais forte é quando ele interfere num linchamento da KKK de um negro porque desejam ficar com uma mina que tinha em suas terras. Os religiosos crentes e protestantes vão adorar o filme que na verdade consegue ser convincente e até inspirador. Era a cara da Metro!