Crítica sobre o filme "Arte de Federico Fellini, A: Satyricon de Fellini, Ciao Federico!, Roma de Fellini, A Voz da Lua":

Rubens Ewald Filho
Arte de Federico Fellini, A: Satyricon de Fellini, Ciao Federico!, Roma de Fellini, A Voz da Lua Por Rubens Ewald Filho
| Data: 28/05/1991

VOZ DA LUA

Último filme que Fellini e único que fez baseado em obra alheia, o livro de Ermano Cavazzoni. Embora trabalhasse com dois comediantes populares na Itália, o filme mal foi distribuído fora. Embora ele tenha momentos geniais, ficou um velho ranzinza, numa fita confusa, sem estrutura narrativa. Fica difícil seguir a história de Ivo (Benigni) achando que ouviu a voz da lua que o chama e o leva a encontros singulares. Vai a um cemitério onde lhe contam como notas podem mover objetos, por um furo no teto do edifício ele volta a infância. O ex-prefeito Gonnella (Vilalgio) denuncia a conspiração contra a vida. Outro vê o inferno nos esgotos. Na festa dos gnhocchis, Aldina é eleita miss Farinha. E assim, por diante com Ivo se perguntando: e se houvesse um pouco de silêncio será que ouviria qualquer coisa? Com todas restrições mesmo um Fellini menor vale mais que muito cineasta medíocre.

 

SATYRICOM

Até mesmo quando fala da Roma de Nero, Fellini é autobiográfico. Vagamente inspirado na obra de Petrônio, o filme é não só uma viagem picaresca pela Roma antiga, como também uma fábrica alegórica ao mundo de hoje. São quadros vivos revelando um mundo que carrega consigo o germe de sua própria destruição. Na Roma de Fellini não há honra, lealdade ou amor. É um mundo cruel, desumanizado, impessoal, até mesmo vazio. O filme tem dois heróis, Ascilto e Encolpio, apaixonados por um efebo que foi vendido para um ator e que tentam resgatar. Depois haverá outras aventuras: um episódio com o Minotauro, o Jardim da Delícias (para curar a impotência), o pirata Lica etc. Estranhamente, é um filme frio, sem nenhuma emoção. Mas é também delirante, uma das mais loucas e ousadas obras de Fellini. Por isso obrigatório.