Crítica sobre o filme "Ponte dos Espiões":

Rubens Ewald Filho
Ponte dos Espiões Por Rubens Ewald Filho
| Data: 22/10/2015

Este pseudo thriller sobre a Guerra Fria, marca o retorno de Spielberg depois de Lincoln, três anos atrás (para recuperar o tempo perdido ele tem vários projetos em ação, inclusive um novo Indiana Jones, e um certo BFG, sobre crianças que protegem um gigante de bom coração! Além de lutar para o não fechamento de seu mal sucedido estúdio Dreamworks!). Mas este é provavelmente o pior filme dele, se não um dos piores (lembra um pouco o também fraco Munique, 05, O Cavalo de Guerra, 11 e Amistad, 97. Onde nem adianta muito se reencontrar com seu amigo pessoal Tom Hanks, que não envelheceu bem (Capitão Phillips foi exceção) e consegue ter momentos de pura canastrice.

Mas o problema maior é contar mais uma vez - e com muito pouco senso de humor apesar do roteiro dos Irmãos Coen, uma história da época em que União Soviética e Estados Unidos eram inimigos acirrados e as crianças tinham aulas nas escolas que ensinavam a como sobreviver a Bomba Atômica e a provável guerra. Como se sabe não sucedeu assim, ainda que a atual ditadura na Rússia e os problemas norte-americanos em suas continuas intervenções no estrangeiro em nada tenham melhorado a situação mundial. Enfim, Spielberg não se conteve e acabou fazendo não apenas um filme que louva um negociador (não do governo mas ainda assim trabalhando para ele) real chamado James B.Donovan (Hanks), mas uma celebração do sistema americano que acha que está certo, por exemplo, mandar aviões espiões fotografarem a Rússia, mas condenam a ação de um espião soviético na América (o filme nunca deixa claro como aquele pacato pintor amador conseguia informações, já que aparenta ser um sujeito razoável e discreto). Essa figura seria Rudolf Abel que é interpretado por um dos grandes atores do teatro britânico, que fez pouco cinema, mas que parece ser candidato certo e forte ao futuro Oscar de coadjuvante (Rylance faz tudo tão pequeno que as vezes sua interpretação passa desapercebida! Ele também está no BFG, e fez A Outra, Intimidade (onde tinha cena de sexo explícito), e a minissérie Wolf Hall,que está no Netflix e que lhe deu indicação ao Emmy).

Depois de mostrar a captura de Abel, Hanks como advogado é forçado por sua firma a defendê-lo de acordo com as regras e a isenção da Justiça norte-americana (ele a principio recusa porque sabia que isso ia provocar reações negativas para si e sua família, embora pareça surpreso com o atentado que sofre). No meio do filme, a trama muda para a Alemanha Oriental justamente no momento da ascensão do Muro de Berlim (foi rodado na Polônia). De qualquer forma, acha que a justiça é superior a histeria governamental e consegue uma única vitória,não condenar Abel a morte, quando ele poderia ser usado no caso de uma eventual troca de prisioneiros. Isso vem a suceder quando um piloto americano novato Francis Gary Powers (Stowell) que pilota um avião espião no céu soviético acaba sendo capturado e exibido em público (houve um telefilme sobre o tema de 76, com U-2, Vôo Clandestino com Lee Majors, que explorava melhor o assunto, inclusive reproduzindo também a cena da ponte que da título ao filme). O que podia ser um bom filme de suspense acaba resultando num filme longo (em particular as sequências finais), sem suspense ou maiores emoções. E que acaba por fazer o louvor do sistema americano de justiça e transforma o Donovan num exemplo de advogado honesto e bem sucedido, sempre lutando pela força da America.

Isso seria até admissível e lugar comum, se tivesse um pouco mais de empenho e talento por parte do diretor (apenas se destaca a fotografia do parceiro antigo Janusz Kaminski, faz preto e branco a cores). O habitual parceiro de Spielberg , o maestro John Williams, porque estava doente, não pode fazer a trilha musical e foi substituído por Thomas Newman, que fez um trabalho modesto e apenas ocasional.