Extra oficialmente este é mais um filme da série Rocky (prova disso é que os produtores do original estão presentes, Chartoff, Stallone e os Winkler) que fez inesperado sucesso e teve reação muito positiva da Imprensa. E deu a Stallone o Globo de Ouro de coadjuvante, uma vitória também nessa categoria do National Board of Review. O mais curioso é que Stallone desta vez não escreveu o roteiro, que é assinado pelo diretor Coogler, que é negro e teve grande repercussão com seu filme /longa de estreia que foi Fruitvale Station (13), que não passou comercialmente mas deve ter passado na TV por assinatura, já que tem um titulo nacional como sempre com sub titulo, Fruitvale Station: a Próxima Parada. O filme também revelou um jovem Black muito talentoso que é Michael B. Jordan (não o julgue por Quarteto Fantástico). Ele começou a trabalhar ainda muito jovem em Hardball, o Jogo da Vida, 01, fez muita TV, esteve em Poder sem Limites (12) e Namoro Liberdade (That Awkaward Moment, 14, com Zac Efron).
Quem já viu o trailer sabe que se trata de uma variante de Rocky, agora centrada na figura de seu maior rival e eventualmente amigo Apollo Creed (vivido por Carl Weathers nos quatro primeiros filmes da série). Ainda está vivo embora tenha mudado muito fisicamente. O filho dele se chama Adonis e está preso como delinquente juvenil porque esta sempre lutando. Recebe porém uma visita de uma viúva (Phylicia, famosa na Broadway e do show de Bill Cosby) que o convida para morar com ela, já que ele é filho do falecido marido dele, justamente Apollo. São menos de 5 minutos de filme e o diretor já soube expor a situação, revelar quem é o garoto e qual seu problema. Isso gente se chama talento.
Com o nome de Adonis Johnson, já se corta para ele adulto, lutando boxe no México. E vencendo seu oponente. Só que ficamos sabendo que ele trabalha em grande escritório em Los Angeles, está prestes a ser promovido, mas pede demissão. Ele mora na mansão que foi do pai mas continua rebelde, criando problemas com o treinador da Academia (outro truque do diretor, quando aparecem os oponentes, a gente fica vendo sua ficha de lutador). Entra em choque também com a viúva do pai quando afirma que quer sempre campeão de boxe. Logo se muda para a Filadélfia, onde logicamente vai procurar Rocky Balboa.
Katherine Hepburn costumava dizer que o segredo é sobreviver, se viver o bastante e continuar trabalhando acaba virando uma espécie de monumento nacional e passa a ganhar prêmios e homenagens. É o que parece estar acontecendo com Stallone, que aos 69 anos nunca chegou a ter suas qualidades reconhecidas, mesmo o Rocky, o Lutador original lhe valeu duas indicações ao Oscar (roteiro e ator mas não levou nada), finalmente ganhou o Globo de Ouro (embora a coragem de indicá-lo como coadjuvante) , outra exceção foram os franceses que lhe deram um Cesar especial pela carreira em 92. Em compensação para o prêmio Razzie (Framboesa para os piores do ano) foi pior ator do ano indicado 31 vezes e vencedor como Pior ator da Década e do Século, coadjuvante (Spy Kids), Pior casal (com Sharon Stone em O Especialista), ator (Pare Se Não Mama Atira!), novamente ator por Rambo III e pior ator, diretor e roteirista por Rambo III e Rocky IV. E ainda um por Rhinestone, um Brilho na Noite. Obviamente é absurdo e ofensivo, mesmo que tenha limitações a perseguição é exagerada e maldosa. Não que tenha prejudicado sua carreira. Neste momento esta em quatro outros filmes (dois de animação aonde faz voz) incluindo o Mercenários IV.
Mas é difícil não ter uma simpatia por alguém com quem crescemos juntos vendo seus trabalhos, conquistando-os com muito sacrifício (sua dicção sempre foi prejudicada pela doença no rosto paralisado de um lado) e conseguindo ser um bom roteirista e um diretor quase sempre competente. Vê-lo agora bem mais velho não é chocante (já que ele envelheceu com seu público) porque com os quilos a mais ele parece ter se humanizado, deixou de ser tanto “poseur” (tem até cena onde conversa no cemitério com a mulher). De repente ele e seus métodos de treino é o que chamam hoje em dia de “old school”.
Está claro que o novo filme não é nenhum Touro Indomável de Scorsese, que parece ser ainda o melhor filme de boxe de todos os tempos (inclusive melhor fotografado). Mas não tem medo de ser sentimental, de criar um interesse romântico para o herói e principalmente uma lealdade entre a dupla que acaba funcionando, sem esquecer também certas situações emprestadas do primeiro filme (o final inclusive acontece nas famosas escadarias de Rocky). E já que não assinou o roteiro, Stallone, vejam a ironia, tem a melhor interpretação dramática de sua carreira. E Jordan continua a ser para mim um sujeito muito talentoso e versátil.