Ainda não assisti a todos os possíveis concorrentes do Oscar, mas entre todos por enquanto este é o meu favorito. Inteligente, bem humorado (é quase comédia), com excelente grupo de atores (perfeito para ganhar os prêmios de Ensemble, ou seja, melhor elenco) e uma implacável crítica a corrupção norte-americana (porque lá eles não ficam muito atrás da gente nesse teor) e o que é pior inspirado em fatos reais. Também é brilhante o roteiro de McKay e Charles Randolph inspirado em livro de não-ficção de Charles Lewis (o autor de O Homem que Mudou o Jogo e Um Sonho Possível, com Sandra Bullock). A surpresa é ver de novo Brad Pitt como produtor (o papel dele no filme é muito discreto, quase sem falas, sem dúvida modesto). Não esqueçam que já ganhou Oscar por 12 anos de Escravidão e até momento já produziu 38 projetos. Além disso já teve 4 indicações ao Oscar, um Emmy por Normal Heart e mais 2 indicações ao 4 People´s Choice Awards e assim por diante.
Mas a grande surpresa é a oportunidade que deram na direção para Adam McKay, que até agora era mal lembrado como o realizador e parceiro do humorista Will Ferrell (embora muito engraçado, ele ainda não foi descoberto pelo público brasileiro). Entre os bons trabalhos, todos comédias, estãoTudo por um Furo, Os Outros Caras, O Âncora etc. (além do Saturday Night Live, 18 trabalhos como diretor, 53 como produtor). Mas nada fazia imaginar o acerto em conduzir este filme que satiriza com criatividade e élan um fato real. A Grande Aposta foi indicado a 4 Globos de Ouro (comédia, roteiro, Steve Carrell e Bale, não ganhou nenhum), ator e elenco pelo SAG.
Uma das grandes sacadas do filme é justamente quebrar a chamada quarta barreira e falar ocasionalmente para a câmera, não como narrador, mas como se fosse um detalhe que valia acentuar, quase uma confidência para o espectador. E outro ponto alto é fazer com que gente famosa comente e fale aqueles dados impossíveis do jargão econômico (prestem atenção as aparições impagáveis e feitas a sério da linda Margot Robbie e a cantora teen Selena Gomez!). Tudo isso lhe dará uma visão diferente e sempre oportuna de como operam os bancos que hoje vivem de manipular e jogar com dinheiro. Foi assim que em 2005 eles criaram a Bolha que levou a uma depressão econômica e a grande crise dos donos de imóveis que tem que pagar a hipoteca. E que naturalmente criou a crise, passou a crise e tudo continuou com dantes, lá como aqui o big business dos bancos é coisa intocável e toda poderosa.
Não há dúvida que o jargão de termos usados em bancos e investidores é quase impossível de se decifrar pelo leigo. O filme, porém consegue manobrar isso com muita habilidade, ao centrar o foco em alguns personagens curiosos e histriônicos como um gênio no assunto feito por Carell (uma figura excêntrica que parece nunca errar em qualquer dado da Bolsa de Valores). Ou o mais esquisito ainda Christian Bale (que fica descalço no escritório). Não tenho capacidade de traduzir para vocês os meandros dos segredos de Wall Street que o filme tão habilmente apresenta. Talvez seja melhor assim, com um elenco excelente a sátira acaba sendo uma lição de vida, de economia, de corrupção. Ou seja, elementos fundamentais da nossa vida cotidiana que continuamos a menosprezar e perdoar.