Crítica sobre o filme "Deadpool":

Rubens Ewald Filho
Deadpool Por Rubens Ewald Filho
| Data: 11/02/2016

Assisti o filme na famosa e bem sucedida pré-estreia pública a uma hora da madrugada de quinta-feira numa sala lotada com público de fãs (que reagiram felizes e aplaudiram nas horas certas, tornando o espetáculo ainda mais agradável). Sim, praticamente todos ficaram até o fim dos letreiros (por favor, não saiam antes por que a Marvel usa sua marca registrada com uma aparição do herói, desta vez fazendo uma citação de Curtindo a Vida Adoidado (86) homenageando Matthew Broderick, anunciando a presença de outro herói na continuação já em andamento, que eu não reconheci mas os fãs adoraram! E afirmando que desta vez não tem Samuel L. Jackman que habitualmente faz esse adendos!

Mas este é mais um detalhe que vem complementar o sucesso que vai ser esta comédia (acho que é a maneira certa de classificá-lo) de ficção cientifica ou simplesmente a transcrição para o cinema de um herói famoso do quadrinhos que é completamente diferente dos outros e se dá ao luxo de zombar de muitos deles (em particular os X-Men e em especial O Wolverine) num roteiro impagável escrito por Rhett Reese e Paul Wernick (os dois fizeram Zombielândia, mas também o péssimo G.I. Joe Retaliação e mais nada que justificasse o ótimo resultado). Na verdade eu lamentei não ser tão aficionado assim de quadrinhos, o que me impediu de entender várias citações (só para fãs).

Mas a Marvel fez muito bem em abordar o ladro negro dos comics antes que alguém o fizesse (o criador lendário Stan Lee aparece aqui como locutor de uma boate de strip-tease!). Praticamente todas as piadas e brincadeiras funcionam (me lembrando muito o estilo da revista Mad, ao citar famosos, inclusive já começando pelos letreiros zombeteiros que cria uma grande publicidade com o público). Certamente grande parte do mérito cabe ao ator Ryan Reynolds, que durante anos lutou para levar o projeto de seu coração adiante, no que deve ter sido um trabalho exaustivo e detalhado (ele aparece a maior parte do tempo ou coberto por uma pesada maquiagem, ou vestindo a roupa do personagem). Engraçado que mesmo sendo dublado por especialistas em cenas de luta, Ryan deixa sua marca na voz e nos trejeitos muitos seus. Certamente a melhor coisa que já fez em cinema.

Outra boa presença é a da brasileira Morena Baccarin, que foi indicada ao Emmy em 2013 por Homeland e fez mais séries que filme (entre elas, V, que a revelou, The Flash (ganhou prêmio por uso de uma voz de Gideon). Ela descende de família de atores (a mãe é Vera Setta, o tio o ator já falecido Ivan Setta) e o sobrenome vem de um ex-marido ainda repórter da TV Globo (recentemente se separou do marido diretor de cinema). Estudou na famosa High School of Performing Arts (de Fama!) e fez a Julliard. Em cinema, fez há pouco A Espiã que Sabia De Menos e me parece que ainda esta em cartaz em Gotham (a série). Seu papel aqui é o central feminino, a namorada do herói e espera-se que ela retorne porque tem um tipo diferente, é bonita, sensual (faz a primeira nudez da Marvel!) e sai-se muito bem.

Tenho falado mais do prazer que o filme me proporcionou com seu senso de humor e nem fiz um resumo. O roteiro usa a técnica de começar com o herói já em plena ação no que seria sua primeira grande missão pegando um táxi e dando lições a um motorista indiano! Acontece então uma incrível e divertida luta numa rua estilo minhocão sempre com o herói tirando o sarro. Sim, com certa vulgaridade, ocasionais grosserias e bastante violência (para os padrões do gênero). Depois a narrativa é entremeada de voltas ao passado quando ficamos conhecendo a namorada, o amigo do bar, a história do amor e finalmente a crise de saúde quando se fica sabendo que ele vai morrer de câncer. É isso que o faz recorrer a um último recurso e o faz cair nas mãos do famigerado Ajax. Esse vai e volta funciona bem e dá certa dinâmica a narrativa (ameaça se arrastar mais ou menos no meio mas felizmente recupera o ritmo e o humor).

Esta é a primeira direção de Tim Miller, conhecido como especialista em efeitos visuais, animador e foi indicado ao Oscar com o curta Gopher Broke, 2005. Foi supervisor Criativo de Scott Pilgrim Contra o Mundo e alguns curtas. Mas nada disso o preparava para um trabalho tão competente. O filme também deve transformar em estrela o ator Ed Skrein que faz o vilão Ajax, que como muitos é britânico, era roqueiro e foi revelado como tantos para Game of Thrones (onde era Daario Naharis), substituiu Jason Statham em Carga Perigosa, o Legado.

 Deadpool passa rápido e dá vontade de ter mais. Que maior elogio se podia dar?