Crítica sobre o filme "Conto dos Contos, O":

Rubens Ewald Filho
Conto dos Contos, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 11/05/2016

Matteo Garrone teve uma longa carreira de filmes menores que não chegaram aqui (Terra di Mezzo, Ospiti, Estate Romana, Primo Amore) até se consagrar com o mafioso Gomorra (08, grande prêmio do Júri em Cannes, deu origem depois a série de TV sobre a Camorra napolitana). Melhor diretor do David de Donatello, melhor filme e diretor europeu do ano. Acertou novamente numa sátira aos programas de reality da YV, com Reality - A Grande Ilusão (Reality, 12, que não foi bem entendido pelos brasileiros mas era original e talentoso). Grande Prêmio do Júri em Cannes. E 5 Davids.

Curiosamente com muitos outros realizadores europeus estava ansioso para mudar de gênero e partiu para esta superprodução fantasiosa, quase um conto de fadas um gênero perigoso a não ser que você trabalhe para Disney. Contos para adultos não são apreciados no exterior e em geral são fracassos de bilheteria como sucedeu com outro com o mesmo ator franco e meio brasileiro Vincent Cassel (aqui ele faz o Rei de Strongcliff, rodou no Brasil O Grande Circo Místico como Jean-Paul, O Filme da Minha Vida de Selton Mello e na França uma versão interessante de A Bela e a Fera, 14).

Com a ajuda do autor que escreveu a história original, Garrone usou um elenco internacional (a mexicana Salma, hoje radicada na Europa, o americano Reilly, o inglês Toby Jones mas nenhum deles tem prestígio para levar gente ao cinema). Assim não precisa ser vidente para prever o fracasso. Mesmo na Itália ganhou David secundário (figurinos) e do Sindicato dos Jornalistas (figurino, som, desenho de produção). Falado em inglês, é baseado no livro chamado Conto dos Contos, diversão para os pequenos, de Giambattista Basile, poeta do século 17.

São três histórias ligadas entre si, situadas cada uma delas em três reinos vizinhos. Uma rainha capaz de tudo para ter um filho e que pagara um preço por isso. Um rei procurar guardar sua filha perto dele, lança um desafio a seus pretendentes e vê-se obrigado a casá-la com um Ogre, um jovem rei libertino, que ama especialmente a beleza sente-se atraído por uma servente de voz melodiosa, mas de idade surpreendente.

Com um vasto orçamento, uma direção de arte grandiosa (sua estética é discutível, há os que vão admirá-la, outros nem tanto). Mas é cheio de cavernas, montanhas, feiticeiras, monstros marinhos que o rei caça porque quer seu coração quente e assim por diante. É sempre ajudado pela trilha musical do notável Desplat e um imaginário para o brasileiro diferente e desafiador. Ou seja, um filme para ser conferido principalmente pela ousadia do cineasta.