Sai com a impressão depois de assistir a sessão de Imprensa que este era um dos melhores filmes deste ano, se não o melhor (que eu assisti até agora). O que depois foi confirmado quando recebemos uma revista que informava que o título que parecia tão pouco atraente era porque se tratava de uma adaptação de uma revista em quadrinhos (Comics) da DC, o que sem dúvida ajudava a entender melhor alguns detalhes da trama que poderiam até parecer pedantes demais. A verdade é que há filmes em que a gente não consegue penetrar e outros que nos conquistam. E esse sentimento não é necessariamente para todo mundo. O fato é que me envolveu totalmente este que parece ser o papel ideal da carreira de ator de Ben Affleck que com seu queixo duro e sua pouca expressividade, é a figura perfeita para um drama/thriller misterioso e surpreendente, muito bem realizado e ainda melhor roteirizado por um quase desconhecido: o roteirista Dubuque é o mesmo que fez O Juiz com Robert Downey Jr (14), o inédito aqui The Headhunter´s Calling (16).
O script, além de ter reviravoltas inesperadas, é armado com muita precisão e se dá ao luxo de apresentar ao final uma lição sobre a figura das crianças autistas que também não deixa de ser surpreendente. Outro elemento inesperado é a qualidade da direção de Gavin O´Connor, que até hoje é pouco conhecido já que sua carreira tem um filme de boxeador com Tom Hardy (Guerreiro, 11), uma história de time de hóquei mal vista por aqui (Desafio no Gelo/Miracle, 04), um policial esquecido (Força Policial/Pride and Glory, 08, com Edward Norton e Colin Farrell), um faroeste esquisito ainda não lançado aqui (Em Busca da Justiça/Jane got a Gun, 15), com Natalie Portman e Rodrigo Santoro. Na verdade seu filme mais admirado já é antigo, Livre para Amar (Tumbleweeds, 99, que deu indicação ao Oscar para Janet McTeer, e prêmio em Sundance para ele). Enfim, levou esse tempo todo para finalmente ter sua melhor chance (não se sabe ainda qual a reação ao filme nos EUA, já que estreia simultaneamente como o Brasil).
O contador é o personagem de Affleck, resultado de uma vida difícil quando garoto, vitima do autismo (naturalmente ainda menos compreendido na época), que é rejeitado pela mãe mas apoiado pelo pai militar (e por um irmão normal com quem convive) que tenta lhe dar todas as armas para ter um futuro digno. Anos depois quando já estamos intrigados com a trama (que deixa imaginar que ele é até um assassino profissional. Será?) descobrimos que tem uma vida totalmente privada, com as coisas que gosta e trabalha como contador de pequenas firmas e faz serviço para grandes empresas, sendo que numa delas faz amizade com uma colega de profissão (uma encantadora presença de Anna Kendrick, indicada ao Oscar por Amor sem Escalas e mais lembrada como estrela de musicais). É preciso mencionar também a qualidade dos coadjuvantes,como o recente premiado J.K. Simmons junto com outros grandes como John Lithgow junto com Jean Smart (de Fargo) e Jeffrey Tambor (premiado na TV por seu Transparent.
Melhor não entrar mais em detalhes e deixar o espectador ir mergulhando numa trama bastante complexa (mas por vezes também evidente), sempre interessante e violenta. Na verdade, é o tipo do filme que vou assistir de novo e torcer para que seja compreendido e esteja nos Oscars do próximo ano.