BETTY - UMA MULHER SEM PASSADO
Outra adaptação literária feita por Charol logo depois de Madame Bovary, com a filha de Jean Louis, Marie como uma alcoólatra decadente que vai parar num pequeno hotel perto de Paris, onde é socorrida por uma viúva (Audran, justamente a ex-mulher do diretor), que a conhece de vista de Lyon. Com a ajuda da amiga, aos poucos ela se recupera e vai contando sua história: tinha um passado misterioso e promiscuo que passou quando se casou com um homem rico e tedioso. Teve filhos, mas um dia traiu o marido que exigiu que ela largasse as crianças. O marido reaparece, mas a conclusão será irônica, cruel e surpreendente. (escrito em 1992)
CIÚME: O INFERNO DO AMOR POSSESSIVO
Escrito pelo célebre cineasta Henri Georges Clouzot (1907-77), realizador de A Verdade, O Salário do Medo, o roteiro de L´Enfer (O Inferno) ia ser filmado em 64, com Romy Schneider e Michel Picolli, mas foi interrompido por causa de uma doença grave do diretor. É retomado agora por Claude Chabrol, um dos remanescentes da Nouvelle vague, que teve sucesso há pouco com sua Madame Bovary. O resultado é honroso, mas mediano. Não deve ter grande repercussão comercial porque é um filme pesado, até desagradável. Por outro lado, não consegue transcender ao nível de arte pura. Sou fã de Emanuelle Béart que deve ser a mais bela mulher do cinema eruropeu atualmente. Além de tudo a danada e boa atriz, sabe fazer tipos, representar. Como aqui onde faz uma faceira e coquete garota que se casa com um sujeito (Francis Cluzet, conhecido por Volta da Meia Noite) que está abrindo um pequeno hotel no campo. Começam felizes, tem um filho, mas aos poucos o marido vai dando sinal de perturbação mental, vai ficando progressivamente ciumento, possessivo, neurótico. Pode ou não ter razão para isso, porque o filme mistura cenas imaginárias com outras verdadeiras, de forma que deixa o espectador um pouco confuso, mas também decidido a fazer seu próprio juízo. Teria ele ou não razão?
O filme desiquilibrado por Cluzet não acerta, não consegue dar uma maior dimensão ao personagem, se prendendo a tiques (e acaba parecendo um sub-Dustin Hoffman). É um desempenho profissional prejudicado pela falta de carisma do ator (Piccllli na época teria sido muito melhor que ele). Por isso certamente o espectador vai ficar do lado de Emanuelle e vai sofrer com o desenrolar que sente, só pode terminar deforma trágica. Com escurecimentos em negro (fade out) e música clássica, o filme tem classe, mas não personalidade. Toca num problema real de forma competente, mas não chega a comover como devia. Pessoalmente o filme me incomodou, deixou perturbado. O que é o maior elogio que lhe posso fazer. Quantas fitas hoje em dia conseguem o mesmo? escrito em 1994)